domingo, 10 de julho de 2011

Como se eu previsse o que virá

As ruas úmidas luziam. Uma lufada de vento sacudia os galhos molhados das amendoeiras nos jardins das casas; tufos de flores rodopiavam no ar e ficavam colados no calçamento. Quando Kitty se deteve por um segundo no cruzamento, também ela pareceu algo que o vento arrancara do seu elemento e que turbilhonava a esmo.


trecho de Os anos, de Virgínia Woolf.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Até a chegada da próxima maré

a maré cheia quase que me afoga
beber daquel'água fez-me um mal danado
alterou meus interiores
escapei semiconsciente
quando acordei, encontrava-me estendida num horizonte de areia plana
a maré já era baixa
hesitante, fui caminhando sobre a terra firme
com medo de que o mar pudesse avançar novamente
já mais segura, brinquei saltei corri e rolei pela areia
voltei a me alegrar
e num instante - não sei qual -
num instante a ressca me assaltou
e agora estou na minha jangada
a observar as imagens que o mar traz e leva
são belas as iamgens, mas me doem
e não posso outra coisa que não ficar aqui, à deriva, até a chegada da próxima maré
quando direi

domingo, 3 de julho de 2011

Disseram por mim, disseram de mim

Vinícius: às vezes eu sinto uma saudade fodida...
Júlia: algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.
Cátia: saudades não são soluços nem solução pra espera.
Zélia: e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma.
Fernando: a vida sempre me foi pouco ou demais, não sei qual.
Álvaro: Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
[...]
de resto eu mesma falo, tá?

ou não. tudo tão bom, tudo tão merda.
tanta informação, tanto o que fazer, tanto o que esperar, tanto o que escolher, tanto qu'inda vem
tanta vontade de tudo largar.
livro novo que já cheira a velho.
ando tão atrevida, tão mais solta, tão não atendo o telefone, tão não paro em casa, tão trabalho, tão burocracia
enquanto isso lá o mundo não gira, ou só gira em redor de
e ainda assim tão ninguém
mais solta de?
ciclos se fecham e se abrem
numa sequência louca que me pega
desapercebida
vejo coisas e fico passada. passada. passada.
porra, não sou Deus!
é tudo uma merda.
e enquanto isso eu estou cá eu sei como, cá como veem
e não me importo que vejam, sou honesta comigo
mas, porra...

[...]
Nayara: As saídas estão na minha frente, mas não consigo alcançá-las. A janela abre para o mundo. Olho. Perco a coragem.