quinta-feira, 29 de abril de 2010

Alice

Ruiz



este sinal de batom
num guardanapo
pode bem ser de um beijo
mancha num trapo
pode querer dizer nada
ou então dizer
que eu te aguardo
a boca num pano mudo
papel que faço
desejo pano de fundo
que eu disfarço
dor que nem bem se escondeu
e ninguém vê
ou só eu
e alguma tarde
você

terça-feira, 27 de abril de 2010

Por impossibilidade de

venho publicar isto aqui.

A vizinhança inteira ouviu. Naquela tarde que tinha tudo para ser só a de mais um domingo modorrento, de repente fez-se alarme. Talvez não tão de repente assim. Há algum tempo já vínhamos reparando naquele casal. Eles, que chegaram à rua recém casados e que se fizeram exemplo desde então. Barulho na casa deles já estávamos acostumados a ouvir, tantos eram os risos, as gargalhadas e a música que os finais de semana abrigavam. Entre aqueles, espaços silenciosos que sabíamos guardar beijos e amassos. A rua inteira se animava quando vinham seus amigos para as freqüentes reuniões. Toda ela se enchia de alegria ao respirar a vida que aquele casal exalava. Pareciam viver numa eterna lua-de-mel. Mas, nos últimos meses, o silêncio havia penetrado na casa como uma doença, uma enfermidade que eles tentaram esconder, mas que o próprio segredo acabou por denunciar-se. Os intervalos mudos de amor que conhecíamos não eram aqueles que agora davam um ar patológico à casa. Como poderiam duas pessoas tão exclamativas de súbito calar-se? Não era normal. Algo estava acontecendo para que tivessem cessado as gargalhadas e a música. A mudez estourou:


– Olhe aqui... olha pra mim!

É hoje que cê vai sair daqui.

Mas não, não vai assim...

Quer antes, por obséquio, me devolver o equilíbrio?

Quer me devolver o sono que sumiu?

– Não, por mim tudo bem. Pode guardar

As sobras de tudo que chamam lar.

Inclusive a aliança cê pode empenhar

Que nem pelo estrago eu vou lhe cobrar.

– Ok, o farei.

Mas e o meu marcapasso, dá pra consertar?

Será que dá também pra consertar meu espelho?

Mas, ainda antes disso, fica de joelhos

E começa a cuspir todos os meus beijos!

– São as sombras de tudo o que fomos nós.

Momentos de intensa emoção.

E as marcas do amor nos nossos lençóis...

– São só sentimentos de penetração,

Ensaios de idas e vindas,

Coreografias de línguas

Que a gente chamou de tesão.

– Meu pobre coração

Tão dilacerado...

– Eu li numa revista.

Bobagem isso que chamam de amor à primeira vista

– ... toda medicina do mundo

´Inda seria pouca.

– Aproveita e apaga

O gosto de pescoço da minha boca!

Detetiza a chateação que a gente chamou de desejo.

– Trata-se, então, de um despejo?

– E, por favor, ao bater o portão não faça alarde.

– Deixo tudo, levo apenas saudade

E a leve impressão de que já vou tarde.


sábado, 24 de abril de 2010

O meu luto é a saudade e saudade não tem cor

preto? não. hoje as cores serão vivas.


Pois, não tive nem condições de sentar aqui para escrever o que quer que fosse ontem.
O psicológico completamente arrasado.
Uma antileonina que adora se esconder,
mas que nem sempre consegue.
Desde a quarta que venho me torturando um pouco. Eis:
21/04: lembro, não sei porque raios, da mecha de cabelo de minha mãe que está guardado dentro de um envelope, dentro de sua antiga Bíblia, dentro da 4ª gaveta de minha comôda, bem lá no fundo. e decido pegá-la.
22/04: vou ao Sesc assistir a um espetáculo da Cia. Tato (PR), Tropeço, que conta a história de amor e de vida entre duas velhinhas com a manipulação não de bonecos, mas das próprias mãos. lindo, sesibilíssimo. em narrativa não linear, mostra a solidão de uma das velhinhas lembrando os momentos felizes quando a outra ainda era viva.
23/04: ensaio de Tempo de Guerra. fomos recuperar a cena criada no último ensaio. nesta, há um momento em que eu pego nos cabelos de Regina (a propósito, Regina está na foto do post anterior, Elas, ao lado de Elis). incrivelmente, reparo que são da mesma cor e quase da mesma textura da mechinha de minha mãe. e tenho que mexer neles, afagá-los. afagando-os eu estou, na verdade, atenuando o momento que está por vir: o homicídio do personagem da mãe. eu que já estava um tanto comovida com a beleza quase psicodélica que a cena está formando - neste ensaio foram acrescentados mais signos, música, movimento... e ah! quase esqueço de dizer que também foi incluído um pedaço de cena que nós tinhamos criado num outro ensaio, a lembrança de um momento de nossa infância. enfim, por tudo isso, meu clandestino coração não aguentou e as lágrimas vieram. vieram e encontraram apoio na sensibilidade e compreensão de meus dois companheiros de trabalho: Diógenes, o dramaturgo a quem sempre me refiro e, claro, Regina. mas fiquei meio lesa pelo resto do dia. em casa, meu pai procurava os motivos de meu silêncio. e só o relato aqui, neste espaço, que é onde tenho menos (mas inda não me isento de) censura. mas compalavras verbalizadas, a ninguém.
24/04: hoje faz 6 anos da morte de minha mãe. longe de contar detalhes de sua existência, deixo aqui um poema de Elisa Lucinda que eu adoro:


Incompreensão dos Mistérios

Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.



terça-feira, 20 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

Ainda cheirando a café

Acabo de chegar do lançamento do Borra de Café, filme de Aluízio Guimarães, com Chico Oliveira no elenco principal.
Uma rápida sinopse: o filme (curta-metragem) se passa no início do século passado, numa fazenda no interior da Paraíba. Contém incesto, infanticídio, fé, tradição. Uma das propostas de Aluízio foi retratar uma Paraíba desconsiderada pelo sensacionalismo da mídia e pela ganância dos políticos. Uma Paraíba verde, rica e próspera.
Tem uma bonita fotografia, pouco diálogo e muito sentido.
Quanto à atuação de Chico, que é meu diretor na Bogotá Playback Theatre, vi um ator de teatro dando tudo de si (como ele sempre faz) para fazer o melhor neste seu primeiro trabalho no cinema. É bastante diferente.
E por falar nisso...
o que mais me impressionou hoje foi o público. Nunca tinha visto o Sesc tão cheio como hoje. E como eles (parecem) ser mais apaixonados e mais dedicados ao cinema do que os do teatro ao teatro. Aparentemente. Mas várias hipóteses me ocorrem. O filme contou com a parceria de várias instituições, inclusive a universidade, o que envolve muita gente, como geralmente acontece nas produções de filmes, sejam longa ou curta-metragens. Enquanto que uma peça teatral pode chegar a ter apenas duas pessoas: o diretor e o ator. Isso pode facilmente influenciar na audiência e no alcance. Mas há outro motivo que me parece mais forte. É o glamour que tem a 7ª Arte. As pessoas aparecem mais bem vestidas, parecem ser mais bonitas, mais cult, moderna, enquanto que nós do teatro temos um certo ar arcaico, apesar de existirem superproduções com altos recursos tecnológicos, que obviamente não são os mesmo do cinema, mas enfim. O que eu quero dizer é que talvez a nossa paixão seja mais sincera ou honesta, não duvidando do amor de ninguém, mas acho que é preciso muita vontade para se dedicar a algo que, pelo menos aqui, é menos valorizado que o cinema.
E continuo inconformada com essa diferença (quantitativa mesmo) de público. É uma pena.
Ah... a Diafragmática Iramaya Rocha estava lá, linda!, fazendo as fotos.





Em tempo.


Ontem tive um dos momentos mais efuziantes do ano. Coisa um tanto rara nesta minha cidade que tem o mau gosto musical (me perdoem alguns novamente esta crítica) por excelência, houve o encontro de três blocos tradicionais: Os Cafuçus da Floresta, O Galo da Borborema e o de nossa faculdade de Comunicação, o Imprensa que é Gostoso (oO).
Dancei, dancei até ficar com dó de mim...
E VIVA O FREVO!!
Me senti espectadora de uns restos mortais. Que a alma da boa música anda pedindo, não paz, mas seguidores. Que não deixemos o samba, nem o frevo, nem o baião morrerem. Pois é certo que não morreram. Ocorre que cada época e cada região tem suas preferências (que nem sempre são as melhores), mas enquanto houverem estudantes, velhos e bêbados dispostos a dançar e a cantar, a coisa se manterá viva!
Macaqueando e dançando como de fato não sei, num determinado momento senti meus pelos se arrepiarem de tanta emoção. Estar ao lado dos músicos sendo levada pelo sopro dos trompetes. Uma alegria imensa. Nada importava naquele momento, nem calor, nem fome, nem câimbras, nothing. De repente eu era a maior dançarina do universo. De repente o asfalto transformou-se em cama elástica e não se davam dois passos em simples caminhada. E por mim não acabava nunca.

[...]

Na quinta, segundo dia de ensaio do Tempo de Guerra desta semana, surgiu a primeira cena montada - ou quase. Be-li-ís-si-ma. De Cícera Candóia, conto de Ronaldo Correia de Brito. Não posso deixar de falar da inteligência de Regina em cena. Aquela criatura tem algo no lugar do juizo que eu ainda não descobri o que é. Mas a cada dia que passa fico mais fã dela! A ideia dela (que surgiu na hora, depois do que me pareceu horas de exercícios físicos) foi perfeitamente aceita. Em cima do que iam vendo, o diretor e o dramaturgo iam conspirando - a favor de -
nós. Duas mentes mirabolantes que não têm nem um tico de pena de nós, pobres atrizes dispostas a doar membros e alma ao nosso trabalho. Mas a cena, que ainda não terminou de ser construída e que contém pelo menos um símbolo maravilhoso, ficou realmente linda. E tão forte que depois Regina me ligou pra saber se eu estava bem. Claro que estava, mas a cabeça não para de rebobinar a fita, o que é insuportável. Ela também estava, e isso é bom. Bom porque mostra que está conseguindo (assim como as outras 3) enfrentar uns traumas que estão sendo trazidos para o palco, por ordem da direção-dramaturgia.
Estou muito envolvida com a coisa.
...



PS: 1. estou com internet novamente! O defeito era uma bobagem na configuração que dava pra ter resolvid por telefone mesmo há muito tempo... aiai.
2. minhas panturrilhas estão mui doloridas de dois dias de ensaios exaustivos e um de frevo. E viva os relaxantes musculares!
\o/

terça-feira, 13 de abril de 2010

I´m back!

or not yet...


É, estive afastada esses dias, mas tenho um bom (ou péssimo) motivo. A incapacidade operacional de alguns servidores de banda larga andam me deixando louca (lê-se Claro 3G)!

Manifestada a minha revolta, continuemos...

No último dia 26 houve uma apresentação da Bogotá Playback Theatre no MAAC, grupo para o qual fui convidada a participar como sonoplasta-musicista e que já foi tema do primeiro post deste blog. Esava previsto para eu começar os ensaios ontem, mas não resisti e já faz 3 semanas que estou indo enlouquecer com eles. É mais difícil do que eu pensava. Ontem mesmo quase entro em desespero, não fosse o apoio que todos estão me dando. Apoio do tipo "ah, nem esquente, depois piora!" kkkk Mas não, não estou sendo irônica aqui. É realmente assim que a coisa se processa. Só tente imaginar o que é você ouvir uma história, vê-la encenada de improviso na hora e ter que fazer a trilha sonora assim, dunada!! Há dois anos a companhia existee disseram que até hoje ainda se sentem fazendo tudo errado. No livro sobre a história do Playback Theatre, a autora (esposa do criador deste tipo de teatro) afirma que até os atores e músicos ganharem confiança, leva realmente um tempo... ou seja, não estou sozinha neste barco e o drama não é só meu.
Por falar em drama... quem quiser rever o referido primeiro post vai encontrar a minha angústia em não ter história para contar. Tal se desfez, mais uma vez pelo clima de amizade e apoio de todos.
Nestes 3 ensaios pude comprovar, mais uma vez, que relações humanas é um bicho por demais complicado, mas não podemos viver sem ele.
Enfim, estou gostando da experiência. Toda ela é bem vinda.

E os ensaios do Tempo de Guerra... esses estão mexendo cada vez mais com os meus interiores. Somos quatro mulheres realmente incríveis, com histórias dignas de uma ópera barroca, e nossa troca de experiências está sendo fantástica! Levando em conta ainda a sensibilidade e excelência do dramaturgo e a sagacidade e experiência do "diretor auxiliar", este espetáculo que está sendo gerido não pode resultar n´algo menos que.
Estou apaixonada.

A universidade também anda a mil. Congresso chegando (Intercom Ne 2010), projetos de iniciação científica sendo encaminhados e, não fosse também incompetência do meu orientador - tou ficando P da vida com ele - estaria uma beleza. Mas vou me virando.

Domingo foi a prova do Banco do Nordeste do Brasil... esperanças de ser chamada.

Leitura? Sábado chegou, finalmente, Angu de Sangue, de Marcelino Freire. Li de uma vez. Maravilhoso a sensação de estar assistindo ao espetáculo (do Coletivo Angu de Teatro) mais uma vez. A linguagem é única, viva. O projeto gráfico do livro também é beliíssimo.
...mas não aconselho ninguém a comprar pela Estante Virtual. O livro chegou em excelente estado mas demorou o dobro do tempo para chegar.
Agora estou lendo, para o PIBIC, Historia Social Del Teatro, de Margot Berthold. Loucura.


Enfins,
senti muita falta deste espaço. Espero resolver meu problema com a operadora o quanto antes, mas até lá...