sábado, 17 de abril de 2010

Ainda cheirando a café

Acabo de chegar do lançamento do Borra de Café, filme de Aluízio Guimarães, com Chico Oliveira no elenco principal.
Uma rápida sinopse: o filme (curta-metragem) se passa no início do século passado, numa fazenda no interior da Paraíba. Contém incesto, infanticídio, fé, tradição. Uma das propostas de Aluízio foi retratar uma Paraíba desconsiderada pelo sensacionalismo da mídia e pela ganância dos políticos. Uma Paraíba verde, rica e próspera.
Tem uma bonita fotografia, pouco diálogo e muito sentido.
Quanto à atuação de Chico, que é meu diretor na Bogotá Playback Theatre, vi um ator de teatro dando tudo de si (como ele sempre faz) para fazer o melhor neste seu primeiro trabalho no cinema. É bastante diferente.
E por falar nisso...
o que mais me impressionou hoje foi o público. Nunca tinha visto o Sesc tão cheio como hoje. E como eles (parecem) ser mais apaixonados e mais dedicados ao cinema do que os do teatro ao teatro. Aparentemente. Mas várias hipóteses me ocorrem. O filme contou com a parceria de várias instituições, inclusive a universidade, o que envolve muita gente, como geralmente acontece nas produções de filmes, sejam longa ou curta-metragens. Enquanto que uma peça teatral pode chegar a ter apenas duas pessoas: o diretor e o ator. Isso pode facilmente influenciar na audiência e no alcance. Mas há outro motivo que me parece mais forte. É o glamour que tem a 7ª Arte. As pessoas aparecem mais bem vestidas, parecem ser mais bonitas, mais cult, moderna, enquanto que nós do teatro temos um certo ar arcaico, apesar de existirem superproduções com altos recursos tecnológicos, que obviamente não são os mesmo do cinema, mas enfim. O que eu quero dizer é que talvez a nossa paixão seja mais sincera ou honesta, não duvidando do amor de ninguém, mas acho que é preciso muita vontade para se dedicar a algo que, pelo menos aqui, é menos valorizado que o cinema.
E continuo inconformada com essa diferença (quantitativa mesmo) de público. É uma pena.
Ah... a Diafragmática Iramaya Rocha estava lá, linda!, fazendo as fotos.





Em tempo.


Ontem tive um dos momentos mais efuziantes do ano. Coisa um tanto rara nesta minha cidade que tem o mau gosto musical (me perdoem alguns novamente esta crítica) por excelência, houve o encontro de três blocos tradicionais: Os Cafuçus da Floresta, O Galo da Borborema e o de nossa faculdade de Comunicação, o Imprensa que é Gostoso (oO).
Dancei, dancei até ficar com dó de mim...
E VIVA O FREVO!!
Me senti espectadora de uns restos mortais. Que a alma da boa música anda pedindo, não paz, mas seguidores. Que não deixemos o samba, nem o frevo, nem o baião morrerem. Pois é certo que não morreram. Ocorre que cada época e cada região tem suas preferências (que nem sempre são as melhores), mas enquanto houverem estudantes, velhos e bêbados dispostos a dançar e a cantar, a coisa se manterá viva!
Macaqueando e dançando como de fato não sei, num determinado momento senti meus pelos se arrepiarem de tanta emoção. Estar ao lado dos músicos sendo levada pelo sopro dos trompetes. Uma alegria imensa. Nada importava naquele momento, nem calor, nem fome, nem câimbras, nothing. De repente eu era a maior dançarina do universo. De repente o asfalto transformou-se em cama elástica e não se davam dois passos em simples caminhada. E por mim não acabava nunca.

[...]

Na quinta, segundo dia de ensaio do Tempo de Guerra desta semana, surgiu a primeira cena montada - ou quase. Be-li-ís-si-ma. De Cícera Candóia, conto de Ronaldo Correia de Brito. Não posso deixar de falar da inteligência de Regina em cena. Aquela criatura tem algo no lugar do juizo que eu ainda não descobri o que é. Mas a cada dia que passa fico mais fã dela! A ideia dela (que surgiu na hora, depois do que me pareceu horas de exercícios físicos) foi perfeitamente aceita. Em cima do que iam vendo, o diretor e o dramaturgo iam conspirando - a favor de -
nós. Duas mentes mirabolantes que não têm nem um tico de pena de nós, pobres atrizes dispostas a doar membros e alma ao nosso trabalho. Mas a cena, que ainda não terminou de ser construída e que contém pelo menos um símbolo maravilhoso, ficou realmente linda. E tão forte que depois Regina me ligou pra saber se eu estava bem. Claro que estava, mas a cabeça não para de rebobinar a fita, o que é insuportável. Ela também estava, e isso é bom. Bom porque mostra que está conseguindo (assim como as outras 3) enfrentar uns traumas que estão sendo trazidos para o palco, por ordem da direção-dramaturgia.
Estou muito envolvida com a coisa.
...



PS: 1. estou com internet novamente! O defeito era uma bobagem na configuração que dava pra ter resolvid por telefone mesmo há muito tempo... aiai.
2. minhas panturrilhas estão mui doloridas de dois dias de ensaios exaustivos e um de frevo. E viva os relaxantes musculares!
\o/

2 comentários:

  1. Produção é o grande centro das questões, Nay, acredite. Com o aditivo que o cinema aqui em Campina tá em uma fase muito específica de prosperidade, as pessoas estão começando a conseguir movimentá-lo de uma forma legal, entede? E por incrível que pareça, de uma forma independente, mesmo que existam uns ou outros que conseguem apoios e incentivos, como é o caso do borra de café. O que eu acho lamentável é as pessoas só ficarem sabendo dessas tais produções, e justamente pela carência de divulgações das produções independentes, me entende? Nem vá achar que o que você viu alí naquele lancamento acontece sempre, porque não acontece não. Eu concordo em grande parte das coisas que você falou aqui, mas acho que existe muita coisa que o problema é mais regional mesmo. Inclusive essa escaassês de força do teatro, a força do teatro em campina tá foda, e isso é muito lamentável. Engraçado, falei disso essa semana inclusive, eu tava em Recife e comentei com a minha irmã (que faz doutorado em cinema lá, por coincidência) que no percurso que a gente tinha feito de um lugar pra outro (não muito longe) eu já tinha visto 4 outdoors com propaganda de peças teatrais - coisa que a gente não vê aqui nem em sonho. Então eu concluo que é um problema mais regional, o teatro no espaço da gente tá precisando de foça e movimento, e com urgência. Enfim. E eu que sofro mais? Quando eu vejo ou já vi alguma exposição fotográfica aqui em campina? Eita politicagem mais sem cultura essa nossa! hehehehe
    E eita! hoje eu ganhei observaçãozinha de elogio aqui, que coisa mais linda hehehhe brigada, querida Nay. Eu tenho é que te pedir imensas desculpas pelo pouco tempo que a gente pode conversar, queria ter conversado mais contigo! Inclusive slim me comentou que iria ter essa frevada aí, mas eu tava em Recife, queria ter ido tanto!!
    Beijo Nay! E viva os relaxantes musculares!

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  2. Agradeço a visita e comentário. E viva a arte, que apesar da mediocridade reinante, sobrevive forte graças aos bons deuses. E viva os pingos dos 'dorflexes', os músculos agradecem.

    Um abraço

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