terça-feira, 29 de dezembro de 2009

The last of the year



Como diria Marília Gabriela numa biografia que ela nunca escreverá eu não me queixo. Seria muita ingratidão de minha parte depois de um ano íncrivel como foi este, arriscaria até dizer que o melhor da minha (curta) vida. Aconteceram muitas e ótimas coisas desde janeiro até cá. Recordando:

#Janeiro: recebi o resultado do vestibular. fui aprovada nas duas universidades que eu queria. tive um verão maravilhoso. dei umas escapadas da casa da minha irmã. toquei pela primeira vez num bar. fui ao primeiro show do ano.
#Fevereiro: começaram as aulas e eu conheci a pessoa que sei que vai me acompanhar pelo resto da vida, aquela a quem eu confio e confidencio segredos, com a qual tenho uma compatibilidade quase total de gênio, minha irmã gêmea separada na maternidade e que nasceu exatamente um ano e duas semanas antes de mim: Andréia Xavier.
#Abril: ingressei num curso de formação de atores, coisa que nunca cogitei fazer.
#Maio: assisti ao show de Ney Matogrosso, Inclassificáveis, on Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa. um dos verdadeiros Artistas restantes e que eu tinha a maior vontade de conhecer. participei de uma oficina promovidade pelo Sesc sobre leitura dramatizada onde conheci pessoas incríveis e que resultou no que contarei mais abaixo. fui convidada para ser atriz na peça "Copenhagen", dentro do doutorado de um professor de Física, e para participar de seu projeto de pesquisa.
#Junho: cantei no Parque do Povo, em pleno São João, num projeto chamado 'Novos Intérptretes Cantam", promovido por um festival de música do qual estava participando. me mudei para um apartamento noutro bairro, saindo da casa que morava desde que nasci. nesse mesmo período estava já ensaiando para o que vem abaixo.
#Julho: apresentei duas leituras dramatizadas dos textos "Liberdade, Liberdade", do Millôr e do Rangel, e "Eles não usam Black-tie", do Guarnieri [http://www.youtube.com/watch?v=XbUZQgK9JfA], dirigidos este último por Chico Oliveira e "Liberdade' por Regina Albuquerque, que admiro muitiíssio já há algum tempo e com quem também me identifiquei muito e fiz amizade. com ela e também com outras pessoas que participaram da leitura. ainda nesse mês aconteceu a primeira eliminatória do festival de música, do qual fui (graças a meu Santo Forte) desclassificada. também assisti ao show de Caetano Veloso, Zii Zie, em João Pessoa, no Espaço Cultural, com Andréia, o que foi inesquecível. ainda assisti, pelo festival de inverno da cidade, ao show de Luís Melodia, à apresentação de Carlinhos de Jesus e Cia de Dança, a encenação de "Silêncio dos Amantes", "Quiprocó" e, pela primeira vez, de "Pluft, o fantasminha", dos mesmos diretores das leituras.
#Agosto: reapresentamos a leitura de "Liberdade", desta vez na universidade federal. comecei as aulas no curso de letras da universidade federal (e abandonei 3 semanas depois). ingressei num grupo de poesia coordenado por uma professora de teatro da universidade, Eliane Lisboa. apresentação da Hora da Poesia, com Fernando Pessoa. participei da segunda oficina de leituras dramatizadas do ano. começamos os ensaios para a apresentação de outro texto "O tartufo", de Molière, com direção de Emília Penteado. assisti à apresentação de um grupo de teatro de improviso, o "Playback".
#Setembro: aconteceu o Palco Giratório, um mês inteiro de apresentações artísticas promovido também pelo Sesc. entre os melhores espetáculos que assisti destaco "Choros e Valsas" (vi 2 vezes), "Hysteria", "A noite dos palhaços mudos", "Fogo-Fátuo", "Angu de Sangue", "Inventário". Apresentação da Hora da Poesia, com Manuel Bandeira.
#Outubro: assisti ao show de Elza Soares na primeira fila do teatro do Garden Hotel, pelo projeto Seis e Meia. criei este blog. fui convidada para fazer um esquete de Medéia e Gota D´água.
#Novembro: apresentamos o esquete - foi maravilhoso. Hora da Poesia, com Bertold Brecht. viajei a Salvador para assistir ao show de Maria Bethânia, minha diva. foi, como se pode imaginar, inesquecível. no dia da minha chegada, apresentamos novamente o esuqete, desta vez pelo Festival Atos de teatro universitário. foi tudo. tivemos a confraternização dos Atores da Maria.
#Dezembro: muitas festinhas de fim de ano. paguei todas as cadeiras da faculdade. estou esperando Andréia chegar aqui em casa que amanhã a gente vai viajar. dia 31 tem show do Buena Vista em João Pessoa, e nós vamos estar lá!

Diante o exposto, só tenho mesmo a agredecer e pedir a Yemanjá que 2010 seja tão bom ou melhor que este ano que se finda. Desconfio que coisas ainda mais surpreendentes estão por vir. Ósculos e amplexos pra vocês!

Uma Artista

- Acabei comprando o novo dvd de Ana Carolina, o de comemoração aos seus 10 anos de carreira. Estive um pouco afastada e alheia ao desenrolar de seus acontecimentos. Ela que me ensinou a tocar, que me apresentou a Chico Buarque & Cia Ltda., a Elisa Lucinda, que abriu minha cabeça e quase racha meu coração, me surpreendeu (novamente). Eu não reconheci mais aquela menina/mulher que há até pouco tempo atrás ainda lia em seus shows textos como "Alfredo é Gisele" e não largava o violão. Definitivamente quem não a conhece não pode mais ver pra crer. Ela anda, digamos, muito "engraçadinha", solta, cheia de caras e bocas como nunca foi. Não que eu ache isso ruim, mas não deixo de estranhar. Ver uma quase encenação sua diante da câmera me arregalou os olhos. Aquela mulher enorme com o dedo em riste na minha cara... mas aí lembrei que sim, ela já cantou músicas como "Eu nunca te amei, idiota", "Dois Bicudos" arrastando o suporte do microfone pelo palco e com uma certa teatralidade, mas me parecia tão mais natural... não sei. Talvez o problema esteja comigo. Também não posso deixar de comentar a evolução evidente de suas composições: passaram de simples/simples para simples/complexo e eu não sei explicar isto. Mal comparando, é como se Ana compusesse como Lygia Fagundes escreve, que é completamente diferente da composição de Calcanhotto e da escrita de Hilda Hilst, respectivamente. É mais ou menos assim, acho. Ou não. Vê aí...
- Mas gostei do retorno à minha fonte.
- Outra coisa que não posso deixar de passar é a faixa (primeira) em que Bethânia canta com ela - especialiíssima, nitidamente à parte de todas as outras em cenografia e direção. Lindo ver a admiração que uma tem pela outra, o entendimento... Oh, meu Santo Forte!
- Bacana também os convidados estranjas. A moça lá do contrabaixo acústico (lindo! fico bege com ela cantando e tocando o baixo; nós que estamos acostumados com voz e violão...), a Chiara e o Legend. Eis o princípio do positivismo. Ou não.
- Falaria mais, mas depois do que ando vendo eu apenash me recolho à minha pequenez.

Oh, meu Santo Forte!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz Natal

será que veriam? será que, em meio à chuva fina mas já embassante caindo sobre o pára-brisa, a veriam? será que seu olhar se demoraria um minuto ali, acima do muro? será que cairía sobre aquela janela aberta no primeiro andar? ultrapassaria o quarto, o corredor, a cortina do banheiro e a encontraria lá, nua, molahda? Será que chegaria a ver a terceira lágrima derramada sobre a expressão de seu corpo abandonado nesta tarde de natal? não.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A trapezista do Circo

Era uma vez. Mas eu me lembro como se fosse agora: eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos. Aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou na cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinha.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Dei de cara com o passado

e de uma forma que não esperava. Senti menos do que poderia ter sentido, se tomarmos como base as reações recorrentes, porém mais do que o necessário, se tomarmos como base a evolução dos meus interiores. Mas, como já diria o poeta...

é desconcertante rever o grande amor.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Foi mais ou menos assim

"eu não queria falar, mas, diante das circuntâncias, me sinto na obrigação. prefiro falar com cada um de vocês em particular. isso que eu vou falar agora eu ia dizer a Cid mais tarde, mas acho melhor na frente de todos. eu me acho uma pessoa muito egoísta. faço teatro, isso e aquilo; digo que não tenho preconceito com nada, que não ligo pra nada... mas também não faço nada pra melhorar a vida de ninguém. quem teve a ideia de fazer isso aqui hoje foi Cid, na intenção de desfazer o menor desentendimento que houvesse entre nós, qualquer que fosse... lavar a roupa suja. então, eu queria elogiá-lo por isso. e também dizer que. quando eu gosto muito de uma pessoa, eu gosto demais, e eu fico fissurada nela e muitas vezes dou-lhe um lugar que não merece. eu nunca fui loucamente apaixonada por nenhum de vocês, mas prefiro assim porque me sinto mais segura. nem neuras. sei que vocês vão estar sempre aqui. é por isso que eu amo vocês."

Em tempo: numa amizade precisa haver três coisas: sinceridade, lealdade e respeito. - Artur.

confra 2009.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Com a qual

acabo de me emocionar pela primeira vez.
Do repertório de Betha:

Soltei meu primeiro pombo-correio
Com uma carta para a mulher
Que me abandonou
Soltei o segundo, o terceiro,
O meu pombal terminou.
Ela não veio e nem o pombo voltou.

Depois que aquela mulher
Me abandonou
Não sei por que,
Minha vida desandou.
O canário morreu,
A roseira murchou,
O papagaio emudeceu
E o cano d'água furou.

E até o Sol, por pirraça,
Invadiu a vidraça
E o retrato dela desbotou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Caio,

o Fernando Abreu





Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Em imagens
































Nunca pretendi usar este espaço para fins de politização ou conscientização de qualquer espécie, pois cada um tem sua opinião e eu não tenho nada a ver com isso, mas acho que este não é o caso. Só quis deixar claro.
Navegando por aqui encontrei essas duas imagens, em sites diferentes, e senti vontade de fazer algum comentário.
Problemas existem mundo afora, mente adentro, e sempre existiram. Nos anos ´60, a onda de violência, guerra e repressão que tomava conta dos países era quase uma pandemia. O Vietnã, as ditaduras latino-americanas, o subjugamento das mulheres e dos negros... Foi a partir disso, em repúdio a isso, em contraste, que surgiu o movimento chamado The Powre Flower. Hippies, pessoas de carne e osso como os soldados americanos, ou os agentes do DOI-CODI, gritaram, mansa e convictamente, o amor livre e a paz total. E tiveram suas vitórias. O Vietnã "venceu" a guerra, as ditaduras chegaram ao fim (à excessão de Cuba), com o nascimento do feminismo nos anos ´70 a mulher ganhou seu espaço na sociedade. E hoje?
Hoje a luta é diferente. Não queremos (apenas) libertar o que ainda resta dos anos de chumbo, como Cuba e Coréia: queremos salvar o mundo. De nós mesmos. Da nossa inconsequência. Da nossa ganância. O preço por isso nós já estamos pagando, pois a "Terra, planeta água" está virando planeta fogo! As campanhas e os movimentos de pressão sobre as autoridades contra o aquecimento global já começaram. Não acredito que esta renião em Copenhagen seja suficiente, e não é. Os hippies e seus simpatizantes precisaram de mais de uma década para suas conquistas.
Mas desconfio que não temos mais muito tempo.

Pra onde vamos as vans, carros e bicicletas?
Certezas avessas,
Comércio de guerra,
Legado de merda.

Mais de um bilhão de chineses marchando sem deuses
E outros descalços fazendo sapatos pra nobres e ratos

Sobe do solo a nuvem de óleo com cheiro de enxofre queimado fudendo com os ares
E outras barbáries.

Quero mudança total,
Uma idéia genial,
A ciência e o amor a favor do futuro,
Quero o claro no escuro.

Peço paz aos filhos de abraão,
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará

Pra onde seguem os barcos?
Os homens, suas trilhas, seus filhos e filhas
No pau da miséria?
Um pico na artéria.

As mulheres pedintes perdidas
Que já quase loucas dividem o frio da noite com as drags,
As mães e os "carregues"

Meninas sangrando na boca e no meio das pernas,
No meio da noite tomando cacete
Sem dente, sem leite

Quero respeito
Os humanos direitos fazendo pensar os pilares
De uma nova era que não seja quimera

Peço paz aos filhos de abraão,
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará...

(Nada te faltará, Ana Carolina)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

likes Betha

Alguém que eu considero muito, por vários motivos (e não interessa quem, se esse alguém ler saberá que estou falando dele) me falou ontem que, assistindo a um vídeo dos Doces Bárbaros, observando Bethânia, lembrou de mim. Percebem? Eu lembro Bethânia! Não consegui tirar isso da cabeça. Ele disse que a Bethânia dos anos ´70, com o cabelo curto, o visual e (disso eu gostei mais) o abuso, me lembra muito...! "Quem me dera um dia" falei, "Pois já lembrou... Você é abusada demais. Igual a Betha."

Quem me dera um dia...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Uma face só

Quando eu nasci um anjo torto me disse: Vai, Nara, ser gauche no amor!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

E ninguém acredita quando eu digo

escrito na contracapa do disco Recital na Boite Barroco

Se uma cantora aprende a cantar e passa a cantar bem, muito bem, ela corre o perigo de cantar bem demais: ela corre o perigo de se tornar uma máquina de cantar, precisa e fria. Isso não acontece apenas com cantor, mas com todo tipo de artista - pintor, poeta, músico. Gauguin dizia: quando aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés. O cantor não tem tantas opções: seu risco é maior. Mas não entenda errado o que digo. Não estou dizendo que só quem não sabe cantar canta bem. Estou dizendo que cantar bem não é cantar correto, segundo se afirma ser correto. Cantar bem é cantar como Bethânia canta: com o calor da vida. É por isso que ela diz: "Sei que desafino às vezes. Mas eu também desafino na vida."
Bethânia é daquele tipo de cantora que não deixa dúvida. A gente ouve e já sabe: uma intérprete excepcional. O que alguns discutem é se ela é ou não a maior cantora brasileira de hoje. Mas isso é uma discussão ociosa. O que é indsicutível é que algumas de suas interpretações, de músicas atuais ou do passado, atingem aquele ponto definitivo que as torna insuperáveis. Ninguém esquecerá jamais a Bethânia do Carcará como ninguém esquecerá também a Bethânia de Anda, Luzia. A estasse somariam várias outras interpretações e nesse disco mesmo podemos citar, apenas como exemplo, Se Todos Fossem Iguais a Você, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ou a irônica recriação de Café Soçaite, para não falar em Baby, de Caetano Veloso, ou em Ele Falava Nisso Todo Dia, de Gilberto Gil.
Isso define uma grande cantora: a capacidade de criar a interpretação definitiva, dentro de determinada época, das cações nacionais. Bethânia é uma cantora nacional, deste país, enraizada nele, e na multiao de vozes e cantos que exprimem a nossa vida destaca-se a sua bela, já turva, já iluminada que canta por todos nós.

Ferreira Gullar