domingo, 21 de março de 2010

Quando eu estava bem, morta de

Reparei hoje o quão linda é essa música, gravda por Betha no Drama 3º Ato (73) e, antes disso, no Quando o carnaval chegar(72 - salvo engano as datas). Soneto, só podia ser de Chico.

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio


sábado, 20 de março de 2010

LaCalcanhotto

[...]



Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

quinta-feira, 18 de março de 2010

Hoje a poesia me puxou pela orelha

e gritou sou eu que te leio!


Quando cheguei na universidade, hoje pela manhã, estava um rapaz muito falante dando uma "palavrinha" para a turma. Com todo o entusiasmo de um amante que fala da coisa amada, ele (Jair Silva, historiador, poeta, militante da cultura negra), mais que informava, recitava um evento que ocorrerá na próxima semana em homenagem ao Dia Internacional da Poesia e do Combate ao Racismo. É a Sexta-feira Maldita (Teatro Rosil Cavalcanti, dias 23 e 24, a partir das 19h), que abre espaço para debate sobre a poesia marginal de autores como Baudelaire, Cruz e Souza e Castro Alves.
No dia 25, em continuação, haverá um Sarau Poético na SAB do bairro Santa Rosa, com a participação da banda Orquídeas Francesas. O sarau faz parte do projeto, idealizado por Jair e pelos ex-membros do CA de História da UEPB, de levar cultura às comunidades carentes. Fazer com que olhem para quem sempre olhou por eles. Os poetas malditos e a contracultura, o lado underground da coisa.


Agora à tarde fui assistir À Hora da Poesia, na UFCG, grupo do qual, infelizmente, eu tive que sair - a correria dos dias vem me roubando da poesia. Mas hoje ela me puxou pela orelha. O tema do mês foi "poesias sobre poesia". Foi lindo. Foram falados (better than recitado ou declamado) autores como Antônio Cícero (link para o blog dele, ACONTECIMENTOS, na coluna "Amiúde aqui"), Mário Quintana e Drummond. Na segunda parte do encontro eu falei Clarice Lispector em E eis que às três horas da manhã eu me acordei e me encontrei. É, não resisti! A música também estava agradabilíssima: Jorge Ribbas tocando Chico Buarque lindamente....


Ontem eu estava me deliciando ouvindo o Drama 3º Ato (1973), da Betha. O texto de Luís Carlos Lacerda, que introduz "Esse Cara", de Caetano:
Mora comigo na minha casa
Um rapaz que eu amo
Aquilo que ele não me diz porque não sabe
Vai me dizendo com o seu corpo
Que dança pra mim
Ele me adora e eu vejo através de seus olhos
O menino que aperta o gatilho do coração
Sem saber o nome do que pratica
Ele me adora e eu gratifico
Só com olhos que eu vejo
Corto todas as cebolas da casa
Arrasto os móveis, incenso
Ele tem um medo de dizer que me ama
E me aperta a mão
E me chama de amiga.

E o texto de Antonônio Bivar Era uma vez mas eu me lembro como se fosse agora, que eu já postei aqui, que introduz uma musiquinha liiiiinda. Eu não sei donde Marino Pinto e Paulo Soledade tiraram tanta delicadeza:
Um pequenino grão de areia
Que era um eterno sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor
Passaram anos, muitos anos
Ela no céu, ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pode com ela se encontrar
Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar
O que há de verdade
É que depois, muito depois
Apareceu a estrela do mar.

domingo, 14 de março de 2010

Janelas de Libra




Cumprindo a promessa, aí está o videozinho caseiro com a gravação de minha primeira composição, Janelas de Libra.
Espero que gostem!
;)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Diretora musical? Eu?!

Na terceira semana de trabalho, acho que já posso falar alguma coisa about. Estou sendo chamada de diretora musical por um bando de gente maluca que eu adoro e que me encubiram desta tarefa.
O que antes seria um pockt show com músicas as mais retrôs acabou se ampliando e resultando num musical que está sendo gestado. Com dramaturgo, atores e diretores amigos, eis o melhor da coisa. Só pra vocês sentirem o drama (e o épico!), o primeiro material que recebemos veio com a seguinte descrição:

TEMPO DE GUERRA

Espetáculo musical-colagem-de protesto, a partir de nossas experiências de vida, de textos de vários autores que a gente gosta, de músicas que adoramos cantar e de uma vontade danada de fazer teatro e de amar-homenagear Maria Bethânia.



Apenash.
Daí que estou criando os arranjos para as vozes de nós quatro. Sim, somos quatro mulheres em cena, quatro vidas que ser tornam uma, ao ser uma todavia, ela é todas nós. Somos quatro mulheres completamente diferentes, tendo em comum apenas essa vontade danada.
Enfim, estou fazendo os arranjos das músicas. A primeira delas foi Borandá, de Edu Lobo. Bem simples. Cantamos a primeira vez Abisague (1 das 4) e eu, com o mesmo clima da interpretação de Nara Leão no Show Opinião. A segunda vez é cantada com um ritmo mais acelerado, semelhante à gravação do Edu com o Tamba Trio. Regina e Adeilma (2 das 4) respondem os "borandá´s" em segunda voz.
A segunda música que trabalhamos foi Mamãe, coragem!, de Caetano Veloso e Torquato Neto. Em pop. Temos três vozes nesta enquanto a quarta voz fala o texto, que intercala as estrofes da música.
De Estrela, de Vander Lee, que acabou de ser lanaça por Betha em seu disco Encanteria, aproveitamos a segunda estrofe, que será citadacantada rapidamente em algum momento do espetáculo.
Mas o que me deu trabalho mesmo foi um pout-pourri com Sentimental e Veneta, do Chico Buarque. Só podia né? Nosso dramaturgo foi intercalando as estrofes destas duas músicas (melodicamente quase dicotômicas) e formou uma narrativa, ou um conto só. E eu que me **** pra arranjá-la. Arranjei, muahahaha! Suando a camisa. A base dela ficou sendo a toada introdutória de Ode aos Ratos, também de Chico. Tem capela, violão dedilhado, baião, triângulo. E a ousadia maior: a última parte de Sentimental eu "traduzi" (não sei que verbo usar) para a toada de Ode. Troquei as melodias, fazendo os devidos cortes na letra para que coubessem os versos na sua nova "casa". Uma alma nova para um corpo novo. Para essa nós vamos ter que gravar um playback, pois o nosso dramaturgo me quer o mínimo o possível com instrumento no palco (¬¬) afinal, também sou atriz deste espetáculo. Estava muito ansiosa e mesmo medrosa para mostrar a eles esse arranjo, pois o delírio foi realmente grande. Foi quase uma parceria com o Chico Buarque!!! Mas eles a-do-ra-ram, para o meu alívio e felicidade.
Fui muito elogiada hoje. Rasgaram sedas sobre a aminha voz. Fiz até gente chorar, o que pra mim é mais satisfatório que fazer rir. O toque é mais profundo. Mas também, como sempre, me diverti muito. Adoro estar com esse pessoal, afora o cigarro eles me fazem muito bem! kkk
E estamos nos afinando, aos poucos. Acho que o resultado vai ser impagável. É isso que me dá ânimos para o despertar de todas as manhãs, independente de toda e qualquer outra atividade que eu faça.

Para os mais curiosos, atentem para as letras das músicas e vão descobrir do que a peça trata. E não subestimem o tema, ele não é tudo. A forma como é contado sim, o é.

Continuarei postando aqui nossa evolução. Idéias não faltam. Da próxima vez falarei também da literatura incluída entre os recortes. Mas, por enquanto


segunda-feira, 8 de março de 2010

Clarice

Lispector




Depois de uma tarde de quem sou eu
e de acordar a uma hora da madrugada em desespero...
Eis que as três horas da madrugada eu acordei
e me encontrei
Simplesmente isso:
Eu me encontrei
Calma, alegre,

plenitude sem fulminação
Simplesmente isso
Eu sou eu
e você é você
É lindo, é vasto
Vai durar





sexta-feira, 5 de março de 2010

Aqui, 42ºC

Há mais de 50 anos Lupicínio compôs "o calor das cobertas não me aquece direito". Hoje essa conotação é invalidada, por mais belasingela que seja, pelo aquecimento global. Perdemos o tão melancólico frio da madrugada que inspirou tantos compositores. Mas restou a poesia.




quinta-feira, 4 de março de 2010

Esqueça a rima que for cara

e fique apenash com a que, pensam (coitados!), é barata. Porque não está no domingo à tarde nas nossas TV´s, porque não toca nas rádios. Porque das 10 pessoas a quem falei, somente duas a conheciam.
Assiti, no último domingo, ao show de Roberta Sá, no Teatro Paulo Pontes, JP. Não conhecia o repertório todo, mas, como sempre, fiz um estudo breve sobre o espetáculo em questão antes de assisti-lo, tomando o cuidado para não perder as - boas - surpresas que o desconhecimento traz. Nem desconfiava que ela tivesse um trabalho de corpo tão "fadístico", pra não dizer "fodástico". Se, como disse Adriana Calcanhotto em seu blog, Marisa Monte é a cantora de canto mais próximo das sereias, Roberta é a de presença mais próxima a das fadas. Uma imensa delicadeza e feminilidade. Leve e graciosa (mesmo que essa palavra pareça tão 50´s). Meio mulher, meio menina. Mas linda. Enfim, não tenho como descrever aqui o que vi no palco, nem tens como perceber isso em vídeos, só mesmo ao vivo.
Do repertório eu reconheci "A vizinha do lado", de Dorival Caymmi, que eu conheço do DVD Chico Buarque - meus caros amigos; "Pelas Tabelas", do Chico, e esta, além do trabalho de corpo da Roberta, eu destaco o arranjo de Pedro Luís. Ele subiu o tom na metade da música e pôs uns vocais que deram um efeito de arrepiar. E quem me conhece sabe que eu adoooro uma mudança de tom inesperada!; e ainda, a que eu descobri na minha pesquisa pré-show, "Samba de um minuto", de Rodrigo Maranhão, que tem uma letra que eu vou te contar... ou não. Fico apenash calada. Foi a música que eu mais esperei no show. Essa eu sugiro mesmo que vocês escutem e se apaixonem como eu. Um dos versos é título deste post.
E, é claro, não posso esquecer de falar da sua violonista (mulher!) Antonia Adinet, também linda e de uma elegância invejável ao violão. Toca feito "macho", e espero com isso não ser acusada de sexismo... me entendam! Ela faz solos de baixo no violão, coisa que eu amo e não sei fazer - ainda. Fiquei encantada. Metade do show com os olhos em Roberta e a putra metade com os olhos em Antonia, e no seu violão. Claro que no final so show não tive coragem de tentar entrar no camarim, pois me conheço e sei que não ia sair de lá com a mesma, e já falha, sanidade que entrei. Queria ter conversado com ela, mas melhor não. Me recolho.

Talvez um dia.

Talvez um dia eu consiga estar assim como a Antonia, acompanhando uma cantora maravilhosa, mas ali, bem escondidinha atrás do meu violão, feliz.

terça-feira, 2 de março de 2010

Adoniran já dizia com razão

:



quem sabe de mim é o meu violão.