sábado, 26 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nas "raida"

Há quase dois meses não vou a João Pessoa, terra que passei a amar.
Acho que isso é um sintoma de cura, isso de não passar mais pelo corredor da loucura,
movida, quase arrastada pela força do hábito
sem sequer entender o que fazia.
E rádio tem uma coisa boa-ruim, uma nostalgia toda própria, sabe?
Gosto de ouvir as rádios da capital, quando estou lá e me lembro de sintonizá-las.
Passa umas músicas ótimas, antigas, uns rocks melódicos que nem conheço, mas aí viaaaaaajo......

e só.

domingo, 16 de outubro de 2011

Falemos às claras

não só às gemas.
e eu poderia fazer um outro trocadilho, mas acho que não quero tudo assim tão denotativamente.
por esses dias postei por aí algo como "tanto a dizer, ma(i)s não digo: me kahlo".
pois que é uma dor intensa como a de Frida, é também uma dor física.
parece que somatizei mais uma vez. e por falar em Frida, é, isso me lembra que.
é também frase dela a que diz "... está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no mental, na doença, na imaginação."
simplesmente não consigo não pensar em quem acordo pensando em quem vou dormir pensando e já não sei mais o que é: pois que já cri ser egoísmo, falso carinho ou dedicação. é por mim ou por ti?
lembro que eu falava da não banalidade daquela coisa (não vou dizer o nome) - porque não, não foi uma coisa qualquer - e muito talvez pelas circunstâncias e contexto, mas tudo me lembra, tudo.
e mesmo entre os detalhes nossos mais particulares, acabo de ver na tv a cena que já me tinhas antecipado, e reflito, e repito: como eu queria estar com você, mas não pude, não pude e também não deixastes. mas e a outra? vi como ela também sofre, porra. e ela também sou eu. alguém sempre sofre. doutra vez foi você, agora somos eu e a personagem da tv. tenho tentado, Deus sabe, meus amigos sabem, mas como eu dizia, não se encontra uma alminha assim em qualquer esquina.
o resultado: estou eu a correr louca no corredor, sem saber o que faço, passando vergonha no telefone, chorando pros amigos, lamentando a Deus, expelindo desabafos aqui e ali, falando em "rompantes".
receio que a pessoa com quem eu queria estar não exista mais. e aí, eu estaria de luto.
mas como eu tenho estado nos últimos 5 meses?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quem tem olhos de ver

Como tenho amigos mais de sangue que meus próprios irmãos
eis que o mais querido deles acerta em cheio:


que às subidas e descidas nessa serra da borborema
corresponde o corredor sem portas nem janelas
que percorro, senil, na cena a germinar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Quando eu respirava (m)ar

Como não houvesse o que fazer, resgatei o antigo aparelho de dentro da caixa
debaixo do guarda-roupas
E revisitei um tempo
Reconheci o que fomos entre frases que poderiam ter autoria qualquer
dado o caráter universal de seu conteúdo
Me admirei (?) da evolução, da curva rumo
ao desespero
Lembrei-me da carta que nunca consegui ler
carta de amor e desespero
e entendi que não por nosso sangue a semelhança das ações
é humano
embora a forma, a forma hereditária
da letra bem caprichada ao garrancho
das trocas infidáveis alta madrugada
às monologadas
Que momentos hiperbólicos foram aqueles!
E onde me encontro hoje? Aqui, aqui mesmo
mais madura, mais corajosa
mais alguma coisa que não sei se quero ser
mas quero, quero re-ser, quero de volta aquela sensação
Se eu voltar ao mar, sei que ele não será o mesmo
Mas nem céu nem terra tem me feito bem

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

tanx, J.

A woman left lonely will soon grow tired of waiting,
She'll do crazy things, yeah, on lonely occasions.

domingo, 28 de agosto de 2011

Reinvenção da cidade

Foi preciso reinventar a cidade
voltar às avenidas largas e lunas
e sentir novamente o cheiro da maresia
de forma indolor
(o que é orgânico não dói!)
Mas não sei dessa naturalidade
sei que a cidade é imensa e a minha questão
precisou de ser recolocada
num lugar onde não desimporta, é lidável
Foi preciso reinventar a cidade e ser feliz outra vez
e o que seria de mim sem ti, meu amigo?
é do Amor que comentamos à mesa ainda ontem
desse amor bonito que cultivo por poucos e bons
e ainda pelo outro "ti", o da primeira invenção da cidade (porque não?)
realismo não, magia
Reinventei a cidade
e reinventando estarei
ela que me promete ainda tantas possibilidades.
Do medo que tinha até a quinta,
hoje trago bem estar
e nunca é tarde ou cedo
para dizer amo-te por estares comigo,
meu amigo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

20 anos blues

de Vitor Martins e Sueli Costa

Ontem de manhã, quando acordei,
olhei a vida e me espantei
- eu tenho mais de 20 anos!
E eu tenho mais de mil perguntas sem respostas

Os meus pais nas minhas costas
As raizes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros
O sangue jorra pelos furos, pelas veias de um jornal

Essa calma que inventei [bem sei]
Custou as contas que contei
Eu tenho mais de 20 anos
E eu quero as cores e os colírios
Meus delírios

Estou ligada num futuro blue




Estou ligada a tantas coisas. Lembranças teimosas que me assolam. Não, não me espanto. Eu devo ter uns 30 anos. Ou assim dizem. Mas tenho muros - muitos! - e mais de mil perguntas. Mas uma mais que todas me incomoda. É donde vem essa necessidade de encontrar o sentido das coisas, e não só num sentido existencialista, falo das coisas reais, factuais, por vezes injustas. E apesar de tudo (ou justamente por tudo isso) quero viver meus delírios. Sim. E aos poucos tirar o peso dos meus pais das minhas costas e guardá-los no canto mais bonito do meu ser. Enterrar minhas raízes noutras tantas marquizes e jamais reprimir a sangria que me alivia a dor da alma. E etc.

Estou ligada na vida.



domingo, 7 de agosto de 2011

Hoje, só, em casa

Como é bom estar só às vezes.
Cantei no chuveiro como nunca faço
uma canção de amor, de saudade
e uma lágrima confundiu-se com a água do banho
Confundiu-se não: discerni-la pela temperatura - quente
Senti, não importa o que, mas senti profundamente
talvez o prazer de cantar e interpretar de forma tão inteira
que eu seria incapaz de repetir na frente de alguém.
É que ontem fui dormir meio Maysa e só hoje foi que reparei.

[...]

Eu quero sentido
sense
meaning.
Quero o sentido
daquilo que for conformado.
Quero sentido
naquilo que for consumado.
E quero sentindo
ainda que doa.
Mas sempre sentir
E sempre sentido.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O que já não era

Quando penso que já não era,
continua sendo. Porque acasos despertam sentidos
e embora o inconsciente represente com novas personagens o que é de desejo,
a parte mais bonita continua naquela música.

domingo, 10 de julho de 2011

Como se eu previsse o que virá

As ruas úmidas luziam. Uma lufada de vento sacudia os galhos molhados das amendoeiras nos jardins das casas; tufos de flores rodopiavam no ar e ficavam colados no calçamento. Quando Kitty se deteve por um segundo no cruzamento, também ela pareceu algo que o vento arrancara do seu elemento e que turbilhonava a esmo.


trecho de Os anos, de Virgínia Woolf.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Até a chegada da próxima maré

a maré cheia quase que me afoga
beber daquel'água fez-me um mal danado
alterou meus interiores
escapei semiconsciente
quando acordei, encontrava-me estendida num horizonte de areia plana
a maré já era baixa
hesitante, fui caminhando sobre a terra firme
com medo de que o mar pudesse avançar novamente
já mais segura, brinquei saltei corri e rolei pela areia
voltei a me alegrar
e num instante - não sei qual -
num instante a ressca me assaltou
e agora estou na minha jangada
a observar as imagens que o mar traz e leva
são belas as iamgens, mas me doem
e não posso outra coisa que não ficar aqui, à deriva, até a chegada da próxima maré
quando direi

domingo, 3 de julho de 2011

Disseram por mim, disseram de mim

Vinícius: às vezes eu sinto uma saudade fodida...
Júlia: algum preço a gente tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal.
Cátia: saudades não são soluços nem solução pra espera.
Zélia: e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma.
Fernando: a vida sempre me foi pouco ou demais, não sei qual.
Álvaro: Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
[...]
de resto eu mesma falo, tá?

ou não. tudo tão bom, tudo tão merda.
tanta informação, tanto o que fazer, tanto o que esperar, tanto o que escolher, tanto qu'inda vem
tanta vontade de tudo largar.
livro novo que já cheira a velho.
ando tão atrevida, tão mais solta, tão não atendo o telefone, tão não paro em casa, tão trabalho, tão burocracia
enquanto isso lá o mundo não gira, ou só gira em redor de
e ainda assim tão ninguém
mais solta de?
ciclos se fecham e se abrem
numa sequência louca que me pega
desapercebida
vejo coisas e fico passada. passada. passada.
porra, não sou Deus!
é tudo uma merda.
e enquanto isso eu estou cá eu sei como, cá como veem
e não me importo que vejam, sou honesta comigo
mas, porra...

[...]
Nayara: As saídas estão na minha frente, mas não consigo alcançá-las. A janela abre para o mundo. Olho. Perco a coragem.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Há uma coisa na minha vida que eu preciso resolver

E essa coisa resolveu me lembrar disso hoje:
contatos que eu não queria fazer;
sonhos atormentadores;
e ligações no meio da noite - as quais não atendi.
joguei o celular no sofá.
acaso ou está tudo encadeado e em movimento (?)
sei que tenho o direito de botar os pontos nos i's
e falar tudo o que eu tenho pra falar
há anos
sem pedir autorização
só a parada do ônibus
mas ainda não é o momento,
não me sinto preparada.
vou precisar de alguém que me socorra na saída, para eu não cair.
não sei quanto mas não tenho muito tempo.
o melhor é fazer antes que o chicote se torne inevitável
pelo resto dos anos.
não bastasse o primeiro
contra o qual gritei "perdão!" para as paredes.

seja como for,
agora não.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

insônia

da realidade a moça do sonho é ouvida a moça da realidade ouve a moça do sonho
atravessa o som o som do motor donde sai o vento
quente a moça se vê não no espelho
na tela escura da tv
os cabelos
contorno das pernas
depois desliga motor som luz
fecha porta olhos
e ouve
um pássaro que leis da física explicariam
deve pousar longe
para ela está junto à cama
ele canta
mas o que é isso?
o risco de um isqueiro?
seu canto lembra o risco de um isqueiro
ela ouve por um bom tempo
e o que pega fogo é seu pensamento
não entende o que aquilo significa
e vai dormir

domingo, 22 de maio de 2011

Juro que eu não sabia

que eu era assim.





[...]
ontem foi o show de Adriana Calcanhotto. maravilhoso, ela é muito fina e minunciosa no que faz. detalhista - só uns poucos percebem os signos. senti falta de alguém pra discuti-los. e eu sei de quem.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Tentando dar ordem à desordem

Apesar de que, agora, 21h04 nada mais é que 21h04.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

lis

Curuminzinho e Eu-mesma se alternam na tarefa de fazer com que nós todos sigamos bem.
Quando Curuminzinho teve febre, Eu-mesma aperreou-se, mas cuidou bem dele acima de tudo, dando-lhe banhos de choque térmico e outras drogas;
Quando Eu-mesma soube, Alma agiu e pediu que Curumim ficasse bem;
Quando a Eu-mesma restou a distância, Curuminzinho abraçou-se a ela mais forte do que nunca, e ambos choraram madrugada adentro;
Quando Curuminzinho reclamou saudade, Eu-mesma incitou-o a continuar os dias, pois precisava dele pra pular, saltar, cantar;
Mas quando Eu-mesma reclamou saudade, Curumim há muito que tentava esquecê-la;
Quando Eu-mesma recebeu notícias, Curuminzinho logo animou-se, mas Razão tratou de alertar-lhes sobre;
Agora, enquanto Eu-mesma tenta entender a todos nós e fica sem saber o que (não) fazer, Curuminzinho late mia e berra, sendo todos os animais feridos ao mesmo tempo, mas principalmente mia – Eu-mesma ouviu seu chiado quando ainda se recuperava da febre.
Pois que Curumim é quem resseca e esfria, recebendo as estações; é quem sua e geme por Eu-mesma.



"Já duas semanas se haviam passado e Lóri sentia às vezes uma saudade tão profunda que era como uma fome. Só passaria quando ela comesse a presença de Ulisses. Mas às vezes a saudade era tão profunda que a presença, calculava ela, seria pouco; ela queria absorver Ulisses todo." CL

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Eu somente só sozinho e solitário*

A dor.
Maior de sentir só.
Ilha esquecida.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Da [linda] noite de ontem

dia de fazer teatro passando a cena abre a porta:
encangada cantando
- encantada.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Foi no mês que vem

de Vitor Ramil, um compositor a quem fui (muito bem) apresentada.

Vou te vi
Ali deserta de qualquer alguém
Penso, logo irei
Que seja antes minha que de outrem
Quando o vento fez do teu vestido
Um dom que Deus te deu
Claro que eu rirei
Ao vendo o que outro alguém não viu
Vou andei
E me chegando assim te cercarei
Digo, aqui tô eu
Que te amo e às tuas pernas quero bem
Já que estamos nós
Te sugeri-me então o que fazer
Claro que eu beijei
Ao tendo o que outro alguém não quis
E tudo isso
Foi no mês que vem
Foi quando eu chegar
Foi na hora em que eu te vi
E mais que tudo
Foi no mês que vem
Foi quando eu chegar
Na hora em que eu te quis
Vou fiquei
No teu chegado e tu chegada ao meu
Penso, grande é Deus
Um paraíso prum sujeito ateu
E pensando assim
Farei aquilo que o teu gosto quis
Claro, eu já ganhei de volta
Tudo o que eu quiser
E tudo isso
Foi no mês que vem
Foi quando eu chegar
Foi na hora em que eu te vi
E mais que tudo
Foi no mês que vem
Foi quando eu chegar
Na hora em que eu te quis

foi assim, tem sido e continuará sido. e mais não digo.

sábado, 19 de março de 2011

Fumei, mas não traguei

e ainda assim fico selé.

quinta-feira, 3 de março de 2011

saudade marítima

a vertigem nasce no ponto G da palma das mãos e ruma até as entranhas do baixo-ventre.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

De peixes

Sabe um peixe? Desses que vivem no mar? Então. Essa história é sobre um que vivia no ar. Nasceu ouvindo dizer que era pássaro e, como tal, permaneceu com a existência sendo carregada por correntes que o levavam aos lugares aonde são levados os pássaros que se prezam. Mas, no caminho que o levava a esses lugares, sempre reparava num brilho forte que vinha d’algum lugar abaixo de si e que o acompanhava desde a sua primeira viagem de pássaro. O brilho vinha de uma coisa grande, que ele não conseguia dinstinguir, mas que se agigantava horizonte afora em pura luz. Um dia ele ouviu, sem querer, numa dessas conversas que ave-grande promove e que só ave-grande entende, que aquele brilho vinha de uma coisa chamada "Mar", onde viviam criaturas desconhecidas, seres perigosos, devoradores de pássaros - vejam bem: peixes devoradores de pássaros. Mas o nosso peixe aqui era dado a reflexões de cunho filosóficocríticometafórico e pensou ora, mas se “mar” se parece tanto com “ar”, se são distintas apenas por uma letra de sonoridade quase muda, ora, se nós, pássaros, vivemos no ar não podemos ser muito diferentes das criaturas viventes do mar e o que nos separa é apenas um quase-silêncio. Foi com esse pensamento que o nosso amigo resolveu desbravar o mar e, na primeira oportunidade, tomou rumo. Sem bem saber como fazia, rasgou o ar numa velocidade meteórica e, como num arrebatamento, mergulhou nas profundezas de um universo totalmente novo e – pasmo percebeu – totalmente seu! Sentiu suas vias respiratórias relaxarem como nunca havia sentido; deixou-se levar pelas correntes marítimas com a naturalidade de quem nascera pr’aquilo; nadou numa velocidade infinitamente maior com a qual jamais voara.
E sentiu-se bem. Sentiu-se ele. Sentiu-se peixe.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cometimento

Entre a morte e a nudez.
O espelho do quarto diz que está particularmente bonita.
Estarão à sua espera.
Solta a correia. No banheiro público se maqueia,
se perfuma.
Coca-cola pra tirar o fel da boca. O desconhecido por destino.
A clandestinidade por carro-forte. A maré é cheia, a lua amarela
e a chuva um excelente respiradouro.
O primeiro beijo é salgado,
o segundo é tinto,
o terceiro pró-logado.
Menage: ela, eu e Giorgio.
Natural como respirar. O toque. O relaxamento e a consciência do universo ao redor.
As mãos que se afagam. Os corpos que se unem.
Séria? Não. é que eu gosto de te observar.
Raios, trovões, deuses que conclamam esta noite.
Bis.
Não quero ir embora. O último beijo a 500 metros da verdade.
Sonho delírio mentira onírica verdade inusitada.
Gostei. gostou.
O cheiro que de algum lugar em mim exala surpreende e entontece.
O sexo que lateja.
Novamente: sonho?
Não. é que somos capazes do que menos supomos ser e o acaso faz por onde.
Esse poema não traduz a verdade e a delícia do cometimento.
Aos 19.
Quem é essa?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Porque há o direito ao grito -- então eu grito.

Há dias que venho maldizendo a dinâmica das atividades teatrais desta minha cidade de Campina Grande. Num domingos desses assisti a uma entrevista com Lobão, que disse: "o Rio [de Janeiro] está vivendo um processo de reinvenção regressiva brutal!". Creio que isso se aplica ao teatro campinense. Tem-se visto montagens, ou melhor, re-montagens de textos que num passado tiveram seu lugar, mas que na cena atual ocupam ou gastam uma energia e um tempo de trabalho que poderia estar sendo dedicado a coisas mais interessantes. No mínimo se arriscar mais...
Enfim, não é sobre eles (só) que quero falar.
Também nós - eu e uns amigos babado que me ensinam e me jogam nessa vibe, que estamos propostas e ideias um tanto mais "avançadas" vemos nossos projetos serem abortados por uns poucos que não se dispõem a encarar a fera. Daí que começamos tudo e terminamos nada. E tem uns que querem meter Lavoisier na história, dizendo que as coisas não estão se perdendo, apenas se transformando... Conversa pra boi morto!
Em novembro passado esses mesmos amigos babado resolveram reunir, montar um grupo de pesquisa em teatro. Pesquisa prática, principalmente, de corpo de ator mesmo. Um dos motes é trabalhar a criação de ações (não movimentos) a partir de textos narrativos, não necessariamente escritos para teatro. E se eu estiver errada, por favor, que alguém do grupo me corrija. Bem, começamos a trabalhar lá por novembro, pro grupo ter uma ideia mais concreta do que consistia, de fato, a proposta. Depois de um mês nos reunimos novamente pra traçar algumas metas pro próximos ano, fazer um balanço, essas coisas... Ficamos de nos reencontrar hoje, 07/02/2011. Contudo, na última semana um espectro andou rondando o meu pensamento: o fantasma do aborto. Uma das componentes já vinha faltando aos ensaios, sem justificativa declarada. Outra, por motivos de trabalho, mesmo querendo muitíssimo continuar a "pesquisa" (porque esta eu sei que quer!), está se vendo no impasse de estar fora da cidade pelo menos três dias na semana. Não bastasse isso, um outro me falou em off-broadway que estava pensando em abandonar o barco e seguir novos ventos... Puta que o pariu, né? Me assombrei, mas não me acuei. Não quero rever esse filme, que anuncia seu final com pontuadas desistências. Chega! Não aguento mais! Que inferno! Quis mandar gente se danar, mas em lugar disso desabafei com quem tem compartilhado dessas mesmas sensações. Nem que sejamos apenas nós dois (que não somos, pois graças aos deuses mais gente quer - e quer!) estaremos roucos de gritar no deserto da indiferença, e chamo indiferença porque não sei que nome dar a isto. E faremos, ah se faremos!
Meus gritos ecoaram no ensaio de hoje. Compreensível e já a par de minhas angústias, nosso por enquanto apenas "condutor" me jogou contra elas em exercícios que... bem, em exercícios que ficaram lá no tablado e que não podem ser reduzidos a poucas linhas.
Voltei pra casa acabaaada, mas satisfeita.
Com a sensação de abandono (essa é uma boa tradução) diminuída.
É que não posso abafar meus gritos, nem essa vontade de fazer que tem me consumido.

"Eu com uma vida que finalmente não me escapa pois enfim a vejo fora de mim - eu sou minha perna, sou meus cabelos, sou o trecho de luz mais branca no reboco na parede - sou cada pedaço infernal de mim - a vida em mim é tão insistente que se me partirem - como uma largatixa, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo." Clarice Lispector



PS: pqp, mais um post mal escrito!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Black-out: medo do escuro

Faltou energia.
A noite respira diferente.
A novidade autoriza que saiam de seus abafados silêncios os nossos barulhos noturnos.
Em algum lugar rua afora carros disparam seus alarmes
- a escuridão é uma ameaça?
No prédio em frente e até no mais distante vejo focos de luz.
Não são velas:
apagão do século XXI se resolve com a luz dos celulares.
Boatos de que foi na cidade inteira.
As rádio estão fora do ar.
Grilos, sapos e outros bichos parecem estar mais próximos.
Até minha ida secreta ao banheiro da madrugada está mais difícil (mais escura).
O céu está bonito como há muito não se reparava.
No extremo mais acima dezenas de estrelas brilham num só encanto.
No entanto,
cônscia da minha pequenez diante desse universo sinto-me vazia.
Lembro que na nossa antiga casa, quando faltava energia eu ia com meus pais pra varanda ficar observando o pedaço de mundo escuro que nos rodeava, registrado aqui e acolá pelos faróis dos carros que passavam. Era como se estivéssemos escondidos, protegidos pela escuridão em nosso momento de observação, e por isso livres. Sentávamos os três, com os pés apoiados na grade do 1º andar. Lembro nitidamente do barulhos que as cadeiras de ferro faziam ao serem arrastadas pelo chão pra mais perto dessa grade. Nosso campo de observação era bastante extenso: só havia casas de um lado da rua, de modo que à nossa frente se via uma linha de trem, para além da qual ficava um campo de futebol, um bar, um condomínio residencial, algumas casas de uma outra rua que ficava mais adiante, duas avenidas longas que davam para outro bairro. Então ficávamos ali até a luz voltar.
Assim que a luz sumiu,
vozes surpreendidas vieram de vários apartamentos.
Tive medo.
Nós, pretenciosos humanos,
sucumbiríamos facilmente ao caos
anunciado pelo mestre Saramago,
ou pelos Tempos insanos de Geraldo Maciel.
É quase meia noite
e várias pessoas desceram para conferenciar.
Eu, que estava na dúvida entre dois programas de tv,
agora não assisto a nenhum.
Nem consigo dormir por causa do calor.
Luz, quero luz!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Poesia de 5ª

cansada demais de começar tudo e terminar nada
o mundo acontecendo lá fora
e aqui dentro, o que?
querendo loucamente atuar cantar falar tocar viver
mas não posso (não sei) fazer mais nada sozinha
e só vejo as coisas à minha volta se diluírem
se esgarçarem
não tem graça
não tem drama
contemporânea, performance
pré ou pós
nem esta poesia de merda presta
barata, fodida
como poderia prestar
se este ar está pesando de nada?
de vazio criativo,
inconcretude de projetos
abortados
tá tudo uma merda
e as pessoas fujindo
bando de covardes
tou cansada de viver à margem
é impossível suportar a vida como um momento além do cais
que passa ao largo de nosso corpo
[...]
as coisas passando eu quero é passar com elas eu quero
[...]
pois não sou eu quem via ficar no porto chorando não
lamentando o eterno movimento
[...]
tou me sentindo pura merda
quanto a mim: mais vale um cachorro morto
porque sou tão estóica quanto um rato morto
se estou sozinha em casa grito
todos os meus medos
meus dramas
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhh
Mesmo com o nada feito o nó no peito a cara dura com o todavia com todo dia com todo ia todo não ia não tem mais jeito não tem mais cura




e se eu achar que esse post tá fedendo mais que a situação eu excluo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eu vi a Betha

Eu vi a Betha?






As queimaduras externas ainda ardem,
mas as internas são de maior grau.
Atritaram-nas contra uma superfície áspera esta manhã.
Não sei mais nada.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pedi mirra veio ouro

Como vocês podem conferir nos comentários de dois posts anteriores, pedi a minha querida Andréia que fizesse o prefácil de meu livro. Ei-lo:

Pre(difícil)

Nara, eu não sei como te dizer, sinceramente, aos prantos estou só de pensar no que vou ter que te falar. Mas como você me conhece muito bem, não posso mentir. Seria hipocrisia minha? O que seria? Falta a palavra apropriada para a emoção. Saramago saberia muito bem do que estou falando.

Andei pensando muito, nas últimas horas, como eu faria para escrever o prefácio de um livro seu. Acontece, que eu não consigo.
Andei lendo muito, nas últimas horas, tentando encontrar uma maneira de apresentar o caminho que você, com seu dom esplêndido, construiu para a representação da vida nos seus contos.
Acontece, que eu não acho.
Minha cara amiga, não de velhos, mas de intensos tempos, a emoção me invade. Como quando fui assistir à sua primeira apresentação teatral. Lembro bem, Joana e Medéia, não consegui conter minhas lágrimas durante todo o espetáculo. Como diria o outro, “a lágrima é o estado líquido da alma”, e assim eu estava ali, pura alma, que não cabia em si de tanto orgulho da amiga de batom vermelho e voz de gigante, sentia emoção e tudo o que só os imortais podem descrever. Assim também estou agora.
Orgulho, essa palavra não é tão boa de se pronunciar quanto adstringência, ou como aquelas que dizíamos enquanto subíamos pelo canteiro da Floriano Peixoto. Mas tenho essa palavra de você. E eu sou muito feliz por isso.
Te contei e recontei tantas coisas. Tantos segredos de liquidificador. Que agora não posso, não, Nara. Me deixa na tarefa de viver a personagem, de editar os inexistentes erros gramaticais que no teu livro contiverem, é mais fácil, é mais simples, porém sincero. A propósito, você já pronunciou isso em voz alta “Meu livro”? A cara da riqueza.
Andei vendo suas recomendações de leitura, de música. Que maravilhas você encontra por aí, hein? A moça que nasceu no lugar errado, no tempo errado, consegue adivinhar meus pensamentos no tempo certo, é aquela coisa, né, Aquela...
Ah, por tudo, desde o início, nossas primeiras interpretações de Caio Fernando Abreu, caminhando por Chico Buarque, Elisa Lucinda (a quem você me apresentou e sou muitíssimo grata por isso), Caetano, “balisa... anh, balisa...”, tantos momentos que fazem você se tornar cada vez mais uma pessoa dessas que eu nem sei como e porquê eu tive a sorte de me quererem em sua vida.
Por isso tudo eu deveria fazer, mas por isso tudo também eu não posso.
Um soneto de Paulo Mendes Campos, encontrado no Blog de Antônio Cícero, o qual você me recomendou:

Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma é pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no meu peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

Espero que você não fique decepcionada comigo. Você não pode.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em tempo

Sobre o dia 15.01.2011, alguns recortes:

Pra onde olhas, beija-flor de minha antena?
A que ponto se direciona teu bico agulha, bico agudo
Que faz ângulos obtusos no céu claro
Desta tarde de verão?
Seguirás apenas teus animais instintos ou,
Admiras, de teu mirante,
O mar de encontro ao horizonte?
Vai, beija-flor, segue teu rumo,
Que este mundo quase que é só de dor
Se não fosse por tu, beija-flor de minha antena.

Dornervosadebarriga.

Areia escorrendo pela mão – a outra já chegou ao nível da alucinação.

Datilofotografias em movimento:
Cabeças que vem e vão velam e desvelam a imagem daquela que me re-pariu.
Pernas que vão e vem, grossas, finas, másculas e femininas, doutos em ritmo e compasso.
Visão que versa, busca, pula, guarda, alterna entre a expressão capturada no telão e a figura distante, porém matéria viva.

Sede aperto dornascostas estrada sem fim.
Esquecimento: lapso provocado pelo acaso que nos (me) assalta desapercebidos. A sapa, vejam só que maravilha, nos (a ele) ajuda a manobrar o carro em meio ao trânsito infernal. Muito agradecida.

Alma lavada.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Conto nº 2

Andréia sugeriu que eu postasse esta que é minha primeira "produção literária", se assim podemos chamar a primeira transcrição para o papel de uma das muitas histórias que habitam a cabeça de uma criança de 6 anos. Ei-la: