segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Porque há o direito ao grito -- então eu grito.

Há dias que venho maldizendo a dinâmica das atividades teatrais desta minha cidade de Campina Grande. Num domingos desses assisti a uma entrevista com Lobão, que disse: "o Rio [de Janeiro] está vivendo um processo de reinvenção regressiva brutal!". Creio que isso se aplica ao teatro campinense. Tem-se visto montagens, ou melhor, re-montagens de textos que num passado tiveram seu lugar, mas que na cena atual ocupam ou gastam uma energia e um tempo de trabalho que poderia estar sendo dedicado a coisas mais interessantes. No mínimo se arriscar mais...
Enfim, não é sobre eles (só) que quero falar.
Também nós - eu e uns amigos babado que me ensinam e me jogam nessa vibe, que estamos propostas e ideias um tanto mais "avançadas" vemos nossos projetos serem abortados por uns poucos que não se dispõem a encarar a fera. Daí que começamos tudo e terminamos nada. E tem uns que querem meter Lavoisier na história, dizendo que as coisas não estão se perdendo, apenas se transformando... Conversa pra boi morto!
Em novembro passado esses mesmos amigos babado resolveram reunir, montar um grupo de pesquisa em teatro. Pesquisa prática, principalmente, de corpo de ator mesmo. Um dos motes é trabalhar a criação de ações (não movimentos) a partir de textos narrativos, não necessariamente escritos para teatro. E se eu estiver errada, por favor, que alguém do grupo me corrija. Bem, começamos a trabalhar lá por novembro, pro grupo ter uma ideia mais concreta do que consistia, de fato, a proposta. Depois de um mês nos reunimos novamente pra traçar algumas metas pro próximos ano, fazer um balanço, essas coisas... Ficamos de nos reencontrar hoje, 07/02/2011. Contudo, na última semana um espectro andou rondando o meu pensamento: o fantasma do aborto. Uma das componentes já vinha faltando aos ensaios, sem justificativa declarada. Outra, por motivos de trabalho, mesmo querendo muitíssimo continuar a "pesquisa" (porque esta eu sei que quer!), está se vendo no impasse de estar fora da cidade pelo menos três dias na semana. Não bastasse isso, um outro me falou em off-broadway que estava pensando em abandonar o barco e seguir novos ventos... Puta que o pariu, né? Me assombrei, mas não me acuei. Não quero rever esse filme, que anuncia seu final com pontuadas desistências. Chega! Não aguento mais! Que inferno! Quis mandar gente se danar, mas em lugar disso desabafei com quem tem compartilhado dessas mesmas sensações. Nem que sejamos apenas nós dois (que não somos, pois graças aos deuses mais gente quer - e quer!) estaremos roucos de gritar no deserto da indiferença, e chamo indiferença porque não sei que nome dar a isto. E faremos, ah se faremos!
Meus gritos ecoaram no ensaio de hoje. Compreensível e já a par de minhas angústias, nosso por enquanto apenas "condutor" me jogou contra elas em exercícios que... bem, em exercícios que ficaram lá no tablado e que não podem ser reduzidos a poucas linhas.
Voltei pra casa acabaaada, mas satisfeita.
Com a sensação de abandono (essa é uma boa tradução) diminuída.
É que não posso abafar meus gritos, nem essa vontade de fazer que tem me consumido.

"Eu com uma vida que finalmente não me escapa pois enfim a vejo fora de mim - eu sou minha perna, sou meus cabelos, sou o trecho de luz mais branca no reboco na parede - sou cada pedaço infernal de mim - a vida em mim é tão insistente que se me partirem - como uma largatixa, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo." Clarice Lispector



PS: pqp, mais um post mal escrito!