quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Em 10 de fevereiro, no dia seguinte ao que voltei de viagem

'Eu vim a Campina Grande diretamente da barriga de minha mãe - barriga que já nem existe mais, embora às vezes me dê uma vontade louca de voltar pra lá. E parti, anos depois, em busca de outras paragens que eu pudesse provar, aprovar, talvez desaprovar. Cheguei a Porto Alegre, que foi o lugar mais distante que consegui ir de início. Hoje, se me perguntam porque escolhi esta cidade, digo simplesmente: pela distância. E a mesma distância-motivo de minha partida é, agora, razão triste para muita saudade. Nessa terra estrangeira, não sou amiga do rei, tampouco de muitos plebeus. Aqui, nada-se, nada-se e morre-se na praia das relações. Aqui nada-se num não-mar (meu mar, cadê?) destemperado, descompensado, de estações mui radicais, intensas - e vida nem tanto assim. Se a minha terra é seca, esta aqui é estéril em muitos sentidos. E me deixa, ilhada que estou de minhas referências, propensa a erros, equívocos que tem por consequência crises de surto, de ansiedade. À minha magra silhueta sua culinária, tão pobre em variedade, também não faz bem. Cadê a pamonha, a carne de sol, a tapioca, o bolo de milho, de macaxeira, o pãozinho fresco, o arrumadinho, a peixada, etc., etc.?

No mais, agora é esperar o último caminhão, que parte sabe lá Deus quando, de volta pro meu Nordeste.' 


Numa virtual (possível!) reapresentação do Como se fosse [im]possível ficar aqui, atualização de um dos trechos finais.