sexta-feira, 27 de abril de 2012

a la Chanel

Por muito tempo, meu cabelo foi minha "marca registrada", ponto de referência. Há quase quatro anos, depois de algumas mudanças, simplesmente deixei que os fios crescessem naturalmente, como são, até o ponto em que eu podia ser identificada primordialmente pela vasta cabeleira cacheada e "arruivada" que fazia de mim, pobre menina magricela, algo de maior, algo de mulher, mulher-leoa, como o signo. E fiquei assim por um bom tempo, mas sempre com a vontade - na cabeça! - de um dia cortá-lo o mais curto que pudesse. Nunca o fiz, acho que não combina com meu rosto, nem com a minha magreza. Talvez como Sansão, a ausência das madeixas omitisse a minha força ou, no mínimo, me deixasse ainda mais insegura comigo mesma e com meu corpo do que já sou. Que um corte pudesse cortar também todo o avanço que alcancei rumo a adulta-idade.
Bem, ontem eu cortei meu cabelo. Ficou curto, acima do ombro, como outrora já o tive. E para a minha surpresa, essa nova moldura, como dizem, não dissipou a expressão que o meu rosto adquiriu com as últimas experiências. Ainda está lá - ainda estou lá!
E, usando as referências das cores em que venho pensando, cabelo nenhum me levará de volta à infância-amarela, agora que sou juventude-azul.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Marguerite Yourcenar

contextualizada


Devo cada um dos meus gostos à influência dos amigos que encontro, como se não pudesse aceitar o mundo senão através da mediação humana. Tenho de D. o gosto pelos musicais, de R. e F. o gosto pelo cinema, de V. o gosto pelo azul, de A. o gosto pela simplicidade das coisas. Porque ter de ti o gosto pela morte?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Bukowski

Charles


there are worse things than

being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Campos

Álvaro de


Estou só, só como ninguém ainda esteve,

Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe.