Por muito tempo, meu cabelo foi minha "marca registrada", ponto de referência. Há quase quatro anos, depois de algumas mudanças, simplesmente deixei que os fios crescessem naturalmente, como são, até o ponto em que eu podia ser identificada primordialmente pela vasta cabeleira cacheada e "arruivada" que fazia de mim, pobre menina magricela, algo de maior, algo de mulher, mulher-leoa, como o signo. E fiquei assim por um bom tempo, mas sempre com a vontade - na cabeça! - de um dia cortá-lo o mais curto que pudesse. Nunca o fiz, acho que não combina com meu rosto, nem com a minha magreza. Talvez como Sansão, a ausência das madeixas omitisse a minha força ou, no mínimo, me deixasse ainda mais insegura comigo mesma e com meu corpo do que já sou. Que um corte pudesse cortar também todo o avanço que alcancei rumo a adulta-idade.
Bem, ontem eu cortei meu cabelo. Ficou curto, acima do ombro, como outrora já o tive. E para a minha surpresa, essa nova moldura, como dizem, não dissipou a expressão que o meu rosto adquiriu com as últimas experiências. Ainda está lá - ainda estou lá!
E, usando as referências das cores em que venho pensando, cabelo nenhum me levará de volta à infância-amarela, agora que sou juventude-azul.