sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Alheio[s]

INICIAÇÃO

Se vens a uma terra estranha
curva-te 

se este lugar é esquisito
curva-te

se o dia é todo estranheza
submete-te


— és infinitamente mais estranho.

(Orides Fontela)


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Teoria umbilical 

Ser humano é criatura difícil. Difícil de duro mesmo, como explica o Aurélio. Tão duro que se torna impossível olhar para o próprio umbigo. A dureza impede a envergadura. Não satisfeito, observa o umbigo alheio; não satisfeito, ainda, interpreta, conjectura e apresenta teorias sobre o que sobrou do cordão umbilical do sujeito alvo. São construídos fatos, atitudes e até pares umbilicais hipotéticos. Quando o umbigo em questão se dá conta, o circo encontra-se armado: outros umbigos estão envolvidos, dentre os quais há sempre algum com quem nunca sequer conversou. Batata: o caráter da pequena cicatriz encontra-se comprometido. Para a reversão do quadro, o umbigo alvo come o pão que o diabo amassou, ou simplesmente acaba perdendo alguns pares. Como tudo é cíclico, após ter saído da situação, envolvem-no em outras [os estudos dos umbigos observadores são vastos]. Com o tempo, porém, o umbigo alvo, a depender de seu temperamento, condiciona-se e torna-se um umbigo teórico, e sai com seu bloquinho de anotações especulando novos umbigos, afinal, há quem tome conta do seu. ¹

¹ Devaneios de uma pessoa que pede encarecidamente aos não autorizados que deixem em paz o seu umbigo.

(Priscilla Ferreira)

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