terça-feira, 29 de dezembro de 2009

The last of the year



Como diria Marília Gabriela numa biografia que ela nunca escreverá eu não me queixo. Seria muita ingratidão de minha parte depois de um ano íncrivel como foi este, arriscaria até dizer que o melhor da minha (curta) vida. Aconteceram muitas e ótimas coisas desde janeiro até cá. Recordando:

#Janeiro: recebi o resultado do vestibular. fui aprovada nas duas universidades que eu queria. tive um verão maravilhoso. dei umas escapadas da casa da minha irmã. toquei pela primeira vez num bar. fui ao primeiro show do ano.
#Fevereiro: começaram as aulas e eu conheci a pessoa que sei que vai me acompanhar pelo resto da vida, aquela a quem eu confio e confidencio segredos, com a qual tenho uma compatibilidade quase total de gênio, minha irmã gêmea separada na maternidade e que nasceu exatamente um ano e duas semanas antes de mim: Andréia Xavier.
#Abril: ingressei num curso de formação de atores, coisa que nunca cogitei fazer.
#Maio: assisti ao show de Ney Matogrosso, Inclassificáveis, on Teatro Paulo Pontes, em João Pessoa. um dos verdadeiros Artistas restantes e que eu tinha a maior vontade de conhecer. participei de uma oficina promovidade pelo Sesc sobre leitura dramatizada onde conheci pessoas incríveis e que resultou no que contarei mais abaixo. fui convidada para ser atriz na peça "Copenhagen", dentro do doutorado de um professor de Física, e para participar de seu projeto de pesquisa.
#Junho: cantei no Parque do Povo, em pleno São João, num projeto chamado 'Novos Intérptretes Cantam", promovido por um festival de música do qual estava participando. me mudei para um apartamento noutro bairro, saindo da casa que morava desde que nasci. nesse mesmo período estava já ensaiando para o que vem abaixo.
#Julho: apresentei duas leituras dramatizadas dos textos "Liberdade, Liberdade", do Millôr e do Rangel, e "Eles não usam Black-tie", do Guarnieri [http://www.youtube.com/watch?v=XbUZQgK9JfA], dirigidos este último por Chico Oliveira e "Liberdade' por Regina Albuquerque, que admiro muitiíssio já há algum tempo e com quem também me identifiquei muito e fiz amizade. com ela e também com outras pessoas que participaram da leitura. ainda nesse mês aconteceu a primeira eliminatória do festival de música, do qual fui (graças a meu Santo Forte) desclassificada. também assisti ao show de Caetano Veloso, Zii Zie, em João Pessoa, no Espaço Cultural, com Andréia, o que foi inesquecível. ainda assisti, pelo festival de inverno da cidade, ao show de Luís Melodia, à apresentação de Carlinhos de Jesus e Cia de Dança, a encenação de "Silêncio dos Amantes", "Quiprocó" e, pela primeira vez, de "Pluft, o fantasminha", dos mesmos diretores das leituras.
#Agosto: reapresentamos a leitura de "Liberdade", desta vez na universidade federal. comecei as aulas no curso de letras da universidade federal (e abandonei 3 semanas depois). ingressei num grupo de poesia coordenado por uma professora de teatro da universidade, Eliane Lisboa. apresentação da Hora da Poesia, com Fernando Pessoa. participei da segunda oficina de leituras dramatizadas do ano. começamos os ensaios para a apresentação de outro texto "O tartufo", de Molière, com direção de Emília Penteado. assisti à apresentação de um grupo de teatro de improviso, o "Playback".
#Setembro: aconteceu o Palco Giratório, um mês inteiro de apresentações artísticas promovido também pelo Sesc. entre os melhores espetáculos que assisti destaco "Choros e Valsas" (vi 2 vezes), "Hysteria", "A noite dos palhaços mudos", "Fogo-Fátuo", "Angu de Sangue", "Inventário". Apresentação da Hora da Poesia, com Manuel Bandeira.
#Outubro: assisti ao show de Elza Soares na primeira fila do teatro do Garden Hotel, pelo projeto Seis e Meia. criei este blog. fui convidada para fazer um esquete de Medéia e Gota D´água.
#Novembro: apresentamos o esquete - foi maravilhoso. Hora da Poesia, com Bertold Brecht. viajei a Salvador para assistir ao show de Maria Bethânia, minha diva. foi, como se pode imaginar, inesquecível. no dia da minha chegada, apresentamos novamente o esuqete, desta vez pelo Festival Atos de teatro universitário. foi tudo. tivemos a confraternização dos Atores da Maria.
#Dezembro: muitas festinhas de fim de ano. paguei todas as cadeiras da faculdade. estou esperando Andréia chegar aqui em casa que amanhã a gente vai viajar. dia 31 tem show do Buena Vista em João Pessoa, e nós vamos estar lá!

Diante o exposto, só tenho mesmo a agredecer e pedir a Yemanjá que 2010 seja tão bom ou melhor que este ano que se finda. Desconfio que coisas ainda mais surpreendentes estão por vir. Ósculos e amplexos pra vocês!

Uma Artista

- Acabei comprando o novo dvd de Ana Carolina, o de comemoração aos seus 10 anos de carreira. Estive um pouco afastada e alheia ao desenrolar de seus acontecimentos. Ela que me ensinou a tocar, que me apresentou a Chico Buarque & Cia Ltda., a Elisa Lucinda, que abriu minha cabeça e quase racha meu coração, me surpreendeu (novamente). Eu não reconheci mais aquela menina/mulher que há até pouco tempo atrás ainda lia em seus shows textos como "Alfredo é Gisele" e não largava o violão. Definitivamente quem não a conhece não pode mais ver pra crer. Ela anda, digamos, muito "engraçadinha", solta, cheia de caras e bocas como nunca foi. Não que eu ache isso ruim, mas não deixo de estranhar. Ver uma quase encenação sua diante da câmera me arregalou os olhos. Aquela mulher enorme com o dedo em riste na minha cara... mas aí lembrei que sim, ela já cantou músicas como "Eu nunca te amei, idiota", "Dois Bicudos" arrastando o suporte do microfone pelo palco e com uma certa teatralidade, mas me parecia tão mais natural... não sei. Talvez o problema esteja comigo. Também não posso deixar de comentar a evolução evidente de suas composições: passaram de simples/simples para simples/complexo e eu não sei explicar isto. Mal comparando, é como se Ana compusesse como Lygia Fagundes escreve, que é completamente diferente da composição de Calcanhotto e da escrita de Hilda Hilst, respectivamente. É mais ou menos assim, acho. Ou não. Vê aí...
- Mas gostei do retorno à minha fonte.
- Outra coisa que não posso deixar de passar é a faixa (primeira) em que Bethânia canta com ela - especialiíssima, nitidamente à parte de todas as outras em cenografia e direção. Lindo ver a admiração que uma tem pela outra, o entendimento... Oh, meu Santo Forte!
- Bacana também os convidados estranjas. A moça lá do contrabaixo acústico (lindo! fico bege com ela cantando e tocando o baixo; nós que estamos acostumados com voz e violão...), a Chiara e o Legend. Eis o princípio do positivismo. Ou não.
- Falaria mais, mas depois do que ando vendo eu apenash me recolho à minha pequenez.

Oh, meu Santo Forte!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz Natal

será que veriam? será que, em meio à chuva fina mas já embassante caindo sobre o pára-brisa, a veriam? será que seu olhar se demoraria um minuto ali, acima do muro? será que cairía sobre aquela janela aberta no primeiro andar? ultrapassaria o quarto, o corredor, a cortina do banheiro e a encontraria lá, nua, molahda? Será que chegaria a ver a terceira lágrima derramada sobre a expressão de seu corpo abandonado nesta tarde de natal? não.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A trapezista do Circo

Era uma vez. Mas eu me lembro como se fosse agora: eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio. Me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos. Aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou na cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinha.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Dei de cara com o passado

e de uma forma que não esperava. Senti menos do que poderia ter sentido, se tomarmos como base as reações recorrentes, porém mais do que o necessário, se tomarmos como base a evolução dos meus interiores. Mas, como já diria o poeta...

é desconcertante rever o grande amor.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Foi mais ou menos assim

"eu não queria falar, mas, diante das circuntâncias, me sinto na obrigação. prefiro falar com cada um de vocês em particular. isso que eu vou falar agora eu ia dizer a Cid mais tarde, mas acho melhor na frente de todos. eu me acho uma pessoa muito egoísta. faço teatro, isso e aquilo; digo que não tenho preconceito com nada, que não ligo pra nada... mas também não faço nada pra melhorar a vida de ninguém. quem teve a ideia de fazer isso aqui hoje foi Cid, na intenção de desfazer o menor desentendimento que houvesse entre nós, qualquer que fosse... lavar a roupa suja. então, eu queria elogiá-lo por isso. e também dizer que. quando eu gosto muito de uma pessoa, eu gosto demais, e eu fico fissurada nela e muitas vezes dou-lhe um lugar que não merece. eu nunca fui loucamente apaixonada por nenhum de vocês, mas prefiro assim porque me sinto mais segura. nem neuras. sei que vocês vão estar sempre aqui. é por isso que eu amo vocês."

Em tempo: numa amizade precisa haver três coisas: sinceridade, lealdade e respeito. - Artur.

confra 2009.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Com a qual

acabo de me emocionar pela primeira vez.
Do repertório de Betha:

Soltei meu primeiro pombo-correio
Com uma carta para a mulher
Que me abandonou
Soltei o segundo, o terceiro,
O meu pombal terminou.
Ela não veio e nem o pombo voltou.

Depois que aquela mulher
Me abandonou
Não sei por que,
Minha vida desandou.
O canário morreu,
A roseira murchou,
O papagaio emudeceu
E o cano d'água furou.

E até o Sol, por pirraça,
Invadiu a vidraça
E o retrato dela desbotou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Caio,

o Fernando Abreu





Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Em imagens
































Nunca pretendi usar este espaço para fins de politização ou conscientização de qualquer espécie, pois cada um tem sua opinião e eu não tenho nada a ver com isso, mas acho que este não é o caso. Só quis deixar claro.
Navegando por aqui encontrei essas duas imagens, em sites diferentes, e senti vontade de fazer algum comentário.
Problemas existem mundo afora, mente adentro, e sempre existiram. Nos anos ´60, a onda de violência, guerra e repressão que tomava conta dos países era quase uma pandemia. O Vietnã, as ditaduras latino-americanas, o subjugamento das mulheres e dos negros... Foi a partir disso, em repúdio a isso, em contraste, que surgiu o movimento chamado The Powre Flower. Hippies, pessoas de carne e osso como os soldados americanos, ou os agentes do DOI-CODI, gritaram, mansa e convictamente, o amor livre e a paz total. E tiveram suas vitórias. O Vietnã "venceu" a guerra, as ditaduras chegaram ao fim (à excessão de Cuba), com o nascimento do feminismo nos anos ´70 a mulher ganhou seu espaço na sociedade. E hoje?
Hoje a luta é diferente. Não queremos (apenas) libertar o que ainda resta dos anos de chumbo, como Cuba e Coréia: queremos salvar o mundo. De nós mesmos. Da nossa inconsequência. Da nossa ganância. O preço por isso nós já estamos pagando, pois a "Terra, planeta água" está virando planeta fogo! As campanhas e os movimentos de pressão sobre as autoridades contra o aquecimento global já começaram. Não acredito que esta renião em Copenhagen seja suficiente, e não é. Os hippies e seus simpatizantes precisaram de mais de uma década para suas conquistas.
Mas desconfio que não temos mais muito tempo.

Pra onde vamos as vans, carros e bicicletas?
Certezas avessas,
Comércio de guerra,
Legado de merda.

Mais de um bilhão de chineses marchando sem deuses
E outros descalços fazendo sapatos pra nobres e ratos

Sobe do solo a nuvem de óleo com cheiro de enxofre queimado fudendo com os ares
E outras barbáries.

Quero mudança total,
Uma idéia genial,
A ciência e o amor a favor do futuro,
Quero o claro no escuro.

Peço paz aos filhos de abraão,
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará

Pra onde seguem os barcos?
Os homens, suas trilhas, seus filhos e filhas
No pau da miséria?
Um pico na artéria.

As mulheres pedintes perdidas
Que já quase loucas dividem o frio da noite com as drags,
As mães e os "carregues"

Meninas sangrando na boca e no meio das pernas,
No meio da noite tomando cacete
Sem dente, sem leite

Quero respeito
Os humanos direitos fazendo pensar os pilares
De uma nova era que não seja quimera

Peço paz aos filhos de abraão,
Quero gandhi na melhor versão

E nada vai me faltar, e nada te faltará...

(Nada te faltará, Ana Carolina)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

likes Betha

Alguém que eu considero muito, por vários motivos (e não interessa quem, se esse alguém ler saberá que estou falando dele) me falou ontem que, assistindo a um vídeo dos Doces Bárbaros, observando Bethânia, lembrou de mim. Percebem? Eu lembro Bethânia! Não consegui tirar isso da cabeça. Ele disse que a Bethânia dos anos ´70, com o cabelo curto, o visual e (disso eu gostei mais) o abuso, me lembra muito...! "Quem me dera um dia" falei, "Pois já lembrou... Você é abusada demais. Igual a Betha."

Quem me dera um dia...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Uma face só

Quando eu nasci um anjo torto me disse: Vai, Nara, ser gauche no amor!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

E ninguém acredita quando eu digo

escrito na contracapa do disco Recital na Boite Barroco

Se uma cantora aprende a cantar e passa a cantar bem, muito bem, ela corre o perigo de cantar bem demais: ela corre o perigo de se tornar uma máquina de cantar, precisa e fria. Isso não acontece apenas com cantor, mas com todo tipo de artista - pintor, poeta, músico. Gauguin dizia: quando aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés. O cantor não tem tantas opções: seu risco é maior. Mas não entenda errado o que digo. Não estou dizendo que só quem não sabe cantar canta bem. Estou dizendo que cantar bem não é cantar correto, segundo se afirma ser correto. Cantar bem é cantar como Bethânia canta: com o calor da vida. É por isso que ela diz: "Sei que desafino às vezes. Mas eu também desafino na vida."
Bethânia é daquele tipo de cantora que não deixa dúvida. A gente ouve e já sabe: uma intérprete excepcional. O que alguns discutem é se ela é ou não a maior cantora brasileira de hoje. Mas isso é uma discussão ociosa. O que é indsicutível é que algumas de suas interpretações, de músicas atuais ou do passado, atingem aquele ponto definitivo que as torna insuperáveis. Ninguém esquecerá jamais a Bethânia do Carcará como ninguém esquecerá também a Bethânia de Anda, Luzia. A estasse somariam várias outras interpretações e nesse disco mesmo podemos citar, apenas como exemplo, Se Todos Fossem Iguais a Você, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ou a irônica recriação de Café Soçaite, para não falar em Baby, de Caetano Veloso, ou em Ele Falava Nisso Todo Dia, de Gilberto Gil.
Isso define uma grande cantora: a capacidade de criar a interpretação definitiva, dentro de determinada época, das cações nacionais. Bethânia é uma cantora nacional, deste país, enraizada nele, e na multiao de vozes e cantos que exprimem a nossa vida destaca-se a sua bela, já turva, já iluminada que canta por todos nós.

Ferreira Gullar

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Feiúra é um talento


Quando me pergunto se você existe mesmo, amor...

Isso é para aqueles que afirmam categoricamente que a cantora Maria Bethânia é, reluto em dizer... feia. Viana Telles Veloso? Não. Competência é seu sobrenome. Pude comprovar isso quando tive a graça divina de, na segunda passada, assistir a um show seu no (beliíssimo) Teatro Castro Alves. É inominável a forma que aquela mulher adquire no palco, ela que já passou da condição de gente há muito tempo. Hoje, dizem as boas línguas, ela é uma entidade. Inexplicável a energia que ela conserva há anos e que a torna quase uma figura mitológica (como a Liberdade do Millôr e do Rangel). É da extrema dedicação que nasce a competência. É do mesmo botão que brotam seu talento e seu amor pela arte de cantar. São galhos da mesma árvore chamada Maria Bethânia. E eu comi o fruto dessa árvore. cujo sabor alucinante jamais esquecerei. Quero um dia chegar aos pés da sola do sapato que ela não usa!
Ouço agora seus discos e me vem à mente algo ainda maior. Num determinado momento do show, melhor nomeando, espetáculo, lembrei-me que era aquela mesma menina que há mais de 40 anos, quando tinha a minha idade, extasiou a platéia do Opinião com sua voz, inigualável, inconfundível, irretocável... Mal pude acreditar. Do lote de coisas que já perdi pela má sorte de ter nascido tão tarde - descuido maldito do destino, esta apresentação se exclui e mais uma vez agradeço a todos os santos (e que lugar melhor para fazer isso que a Bahia?) a oportunidade. Não me arrependo de nada, de não ter corrido até o pé do palco, de não ter gritado tudo o que eu queria. Me sinto agradavelmente satisfeita.
Sem mais delongas, afirmo tão categoricamente quanto: Feio é bonito.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Com a qual

acabo de me emocinar mais uma vez.

Boneca de pano
Girando num cabaré
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça mas não é
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça mas não é

Um dia alguém a chamou de boneca
E ela, sendo mulher, acreditou
O tempo foi se passando
Ela se desmanchando
E hoje
quem olha pra ela não diz quem é
Em vez de boneca de louça
Hoje é boneca de pano
De um sombrio cabaré.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Enquanto isso...

Estava trabalhando agora mesmo em meio artigo sobre Teatro-comunicação, exatamente nessa parte "Marcelino Freire utilizou sua experiência de cidadão morador de um centro urbano tomado pela violência e pelo descaso para escrever sua obra e é essa mesma violência a que assistimos diariamente nos meios de comunicação" quando a capainha toca. Era a vizinha vindo perguntar se não havia roupa nossa estendida no varal lá embaixo porque cortaram a cerca elétrica do comdomínio e roubaram todas.

Onde é que vamos parar?

Só pra registrar mesmo

Não quero por agora fazer o menor comentário analítico do que (re)vi hoje. E com muito prazer. Pluft - O fantasminha (Ma. Clara Machado) e Fogo-Fátuo (Lourdes Ramalho - !), duas montagens maravilhosas de um pessoal que eu gosto um bocado. E como é bom a gente passar o dia com quem a gente gosta... e assiste um e desmonta e monta o outro e assiste o outro e desmonta esse outro e corre pro Teatro e pra casa da atriz e haja material pra carregar... e no final o que é que sobra? Cansaço também mas eu falo de alegria, uma espécie de bem-estar exausto. Como é bom trabalhar nosso coletivo, nosso lado cooperativo, grupal, inerente a todos os seres humanos, embora alguns tenham adormecido essa parte. Enfim. Bom gostar, bom saber que nos gostam. Agradeço a todos os santos. Preciso ir...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Maiakovski

...



mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração.

domingo, 8 de novembro de 2009

Acontece que

assim como a Camila do conto de Lucinda (Um dedinho de amor), "por muito tempo fiquei dando meus pedaços para ser amada. Agora não."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Basta 8 minutos


Me segurei até agora pra não falar antes. Há pouco mais de uma semana, estou em casa tranquilimente quando alguém me liga. "Sim?" "Aqui é Danielle, você não me conhece...", pensei pronto! agora lascou, será o seviço secreto norte-americano? Não era. Era uma moça, mestranda em letras, que estava em busca de uns atores para a apresetnação de um esquete num seminário e, incrível, haviam me indicado. Não sou atriz, sou musicista!, mas não resisti... Looouca! E que fã de Chico Buarque resistiria ao convite de encenar Gota D´água?! Pois foi esta junto com Medéia, de Eurípedes, peça na qual o Chico e o Paulo Pontes se inspiraram para escrever Gota D´água, que vem a ser, na verdade, uma atualização/adaptação da tragédia grega para o século XX. Enfim. As meninas do mestrado recortaram uma das últimas cenas, quando Creonte (detentor do poder) expulsa Medéia de sua cidade e Joana (a do século XX) de sua casa. O Creonte era o mesmo e se dirigia para as duas, como se fossem uma só. Samuca fazia o seu papel e enquanto Suellen fazia Medéia eu fazia Joana, com a responsabilidade e pressão de quem já viu a interpretação de Bibi Ferreira. Como não podia faltar num musical, fazia parte da cena escolhia pelas meninas Basta um dia e sim, meus caros, eu cantei. Por mais que eu me envolva cada vez mais com e teatro, a minha amada vem sempre ao meu encontro. Enquanto eu, ou devo dizer Joana?, cantava à capela em voz alta e forte, aquela força de quem está com 'toda agonia, toda sangria, todo o veneno', Medéia ia me vestindo de um véu vermelho e aí começavam os monólogos, primeiro o grego, depois o moderno. Foi aí que eu mais me emocionei. De Tudo está na natureza encadeado e em movimento até quero ver como reagem à ressaca! o sangue, e dessa vez o meu, não o de Joana, ia esquentando, esquantando até ferver na ressaca! E toda a energia eu ia liberando, além da voz, ao amassar uma massa de pão crua, idéia de Regina, e acho que agora é hora de falar dela.
Foi ela quem me indicou para as meninas, foi ela quem nos ajudou generosa e brilhantemente a montar esse pequeno esquete. É maravilhosa a energia que ela passa durante os ensaios. Mas o que mais me chamou a atenção foi, e é, sua capacidade de compreender as individualidades de cada um e saber trabalhar com elas e ao nosso favor. Por exemplo. Ela sabe que eu sinto através da música, então, para eu entender o sentido que devia dar à fala de Joana, ela me fez cantar Gota D´água olhando nos olhos de Samuca "sem desviar!". Primeiro, cantei naturalmente, como o meu eu canta e depois quem cantou foi Joana, com todo o seu ódio. Era dessa segunda forma que ela queria. Era com aquela intenção que eu devia falar todo o texto. E falei.
Depois da apresentação um homem veio nos cumprimentar, a nós e a Regina, e contou que estava observando ela falando o texto também, baixinho, "como se estivesse soprando no ouvido de vocês". É, talvez estivesse.
Parabéns, Regina, e obrigada.

Eu poderia falar muito mais aqui não fosse o cansaso resultado dessa semana de ensaios diários.

olha a voz que me resta
olha a veia que salta
olha a gota que falta
pro desfecho da festa
por favor
...

sábado, 31 de outubro de 2009

Maitê

Proença



...não se morre de intensidade. Morre-se, ao contrário, pelo embrutecimento.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ro Ro (again)

PS (pré-scriptum): juro que não sabia que era da Ro Ro quando ouvi.





Não há princípio que resista ao fim.





PS (post-scripitum, àquela mesma pessoa do post anterior): pra mim não chegou ao fim. Espero que você possa entender que a pior parte está passando. Esse meu maldito defeito, e eu nem acredito que estou chamando isso de defeito, de me entregar inteiramente às pessoas, de coloca-las preciptadamente, isso é o que dizem, em lugares muito especiais e secretos do meu âmago, esse defeito, acredite, tem validade. Logo logo eu desperto pra realidade e vejo como as coisas realmente são, sem distorções, então aí as coisas passam a ficar mais "saudáveis". Acho que não me expressei perfeitamente bem, mas não importa. Importa é que agora nós podemos continuar sem mais medos ou.
Até breve.

domingo, 25 de outubro de 2009

Ro Ro

Acabo de assistir a uma entrevista com a Ro Ro. Não pretendia escrever nada aqui sobre. Aliás, não pretendia escrever tanto aqui, mas... enfim. Depois de começar o dia não tão bem provando o gosto amargo da indiferença, acre principalmente porque proveniente de quem amo, ouvir a Ro Ro dizer o quanto ama a vida me trouxe uma espécie de alívio/conforto ao coração. Não sei. Sei é que o mundo não é tão pequeno assim como dizem e que ainda tem muita gente bacana pra eu conhecer. Além da voz, aquela maravilha de voz, fiquei impressionada com a simplicidade da Diva (desculpem, pra mim ela é) e a honestidade que tem consigo mesma. Virtude. Honestidade e respeito, que tecnicamente não deviam combinar com a porra-louquice da qual ela fez, embora não tenha deixado de fazer, parte. Louquice, loucura... muito se falou em loucura na entrevista. O álcool, o cigarro, as drogas... as polêmicas, os escândalos, tudo isso ela deixou de lado, mas afirma que não a loucura, inerente a ela, todo o ser dela, ela. "Nunca compus sob efeito de nada". Eu acredito em suas palavras e acredito que tais se justificam por essa mesma loucura que a integra. Palavras. Como achei-as bonitas. Quão clara ela foi e transparente e delicada e... molestada aos 9 anos... surrada já adulta pelo hipócrita conservadorismo de uma sociedade "porcaria". Que atentado à moral que nada! Tive nojo desta porcaria em que vivemos, nojo! Burra, reta, incapaz de compreender naturezas humanas mais sensíveis, mais intensas. E saber que não temos pra onde fugir... não, temos sim. Angela, querida, eu preciso te ouvir!! Me salve! Salve o seu público pequeno e fiel. Obrigada por se cuidar, por amar, por ser feliz...

É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado
Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz!
Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora
Amo a vida a cada segundo
Pois para viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito, é meu direito!

sábado, 24 de outubro de 2009

Uma vida inventada

Nas noite de céu pelado, sem estrela, é porque elas desce das alturas e mergulha no fundo do mar pra iluminar as festa do povo que vive dentro das água. Lá nas fundura tem uma rainha muito bonita que anda arrodeada das onda. As onda são suas princesa. E é assim, acompanhada com aquela bordadura das renda de espuma, que ela aparece pros súdito. Um esplendô, todo iluminado pelas estrelinha. Por isso que no dia seguinte das aparição da rainha sempre chove. É pra facilitar as estrela de tornar pra perto da lua, pulando e subindo de gota em gota.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

TPM x Ópio

Segundo especialistas, o efeito que o ópio, a droga, aquela mesma que os orientais sabiamente (ou não) usavam, faz no organismo do ser vivo é o de completa tolerância e resignação para com as dores, essas físicas ou emocionais. Sob seu efeito, a pior das dores torna-se perfeitamente suportável e a pessoa simplesmente aceita as desgraças mundanas.
Já no extremo oposto disso, encontramos a chamada TPM, sigla para tensão pré-menstrual, sendo que o sujeito oculto desta oração vem a ser nós, as mulheres, condenadas biologicamente a esse martírio que a poeta Elisa Lucinda denominou "mensal das Evas". Pois bem, caras senhoras, é a vós que escrevo. Sei pelo que passamos. Acredito que o estado emocional em que ficamos todo mês seja exatamente o contrário daquele em que o ópio nos deixa, ou deixa quem o consome. Passamos a sentir todas as desgraças do mundo, a percebê-las e tomá-las para nós, a desistirmos das nossas lutas; perdemos as forças, um mínimo de desatenção chega a ser a gota d´água para um relacionamento.
Pois bem, este artigo não quer ser mais que um mero constatador (?) do antagonismo dessas duas coisas, o ópio e a TPM (que curiosamente são masculino e feminino), fruto da experiência desta que vos escreve.
Quero deixar claro que não estou aqui fazendo apologia ao uso de drogas, seja ela de que tipo for. Apenas um conselho às minhas companheiras do sexo frágil (até parece ¬¬): não tomem nenhuma decisão durante esse período delicado de suas vidas. O mundo não é de todo uma desgraça como parece, assim que passar o efeito dessa nossa droguinha interna vocês vão descobrir.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lennon,

jamais Lênin.



A vida é o que lhe acontece enquanto você está ocupado fazendo outras coisas.

sábado, 17 de outubro de 2009

De louça fina

Daquilo que foi excluído...

Não pude deixar de notar. Exatamente no meio do prato, de louça fina, havia um furo. Não um furo propriamente dito, mas uma marca mais forte que as outras. Pratos, se usados, têm mesmo seus riscos e arranhões, é a natureza deles, seu destino, sua sina. E essas marcas, esses riscos, todos e cada um deles, mostram quantas histórias um prato tem pra contar, se pudesse contar, não importa se é de louça fina ou de material barato. Bom, mas o prato não é, em si, o protagonista dessa história, como também não é apenas um coadjuvante, pois será o responsável pelo desfecho desse conto.
O que não me sai da cabeça é o furo. Louça fina certamente é usada por gente “fina” e gente fina também tem suas alterações, seus momentos de ira. Posso estar indo longe mas não deixo de pensar que aquele furo, mais forte que os outros, derivou da reação de alguém a alguma coisa e não de um simples e corriqueiro escorregão de talher por seu manuseador. Reação química: o cérebro recebe uma informação que é repassada em forma de estímulos nervosos para o corpo, os músculos e, dependendo da pessoa, ela pode exteriorizar de forma violenta. No caso, o prato foi a vítima. O que terá sabido ou visto ou sentido essa pessoa para ter “esfaqueado” o prato com tanta força? A filha está grávida! Ou pode ter passado no vestibular... a mulher perdeu o emprego, ou foi promovida! A sogra enfartou ou... não. Essa já seria a notícia boa! Ela pode ainda ter visto seu amante na mesa logo ao lado, tão perto e tão fácil pra puxar assunto com o seu esposo! Mas seja por que motivo for essa é a cena que eu imagino: ele/ela bateu no prato com força, com toda a sua força, levantou-se da mesa ainda com mais violência chegando a entornar o vinho e a afastar os pratos dos seus acompanhantes alguns centímetros. Foi-se embora.
Olho para o prato e já nem sinto vontade de comer. A contrariedade dessa pessoa transmitiu-se para mim. Levanto da mesa, deixo alguma gorjeta para o garçom. Vou-me embora.

Noite Carioca, o bar, jan/2009.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Amor lésbico

Bem, esse vai ser um tema bastante recorrente aqui, acredito.
Nem que eu quisesse conseguiria me livrar desse amor lésbico que me acompanha desde a infância e que já me arrancou lágrimas, sorrisos, gritos histéricos, silêncios. A Música há de ser sempre a minha fiel companheira por onde quer que eu ande, hoje e daqui a cem anos. Disso não tenho dúvida, embora ache que não mereça - não lhe dou a devida atenção. Não importa.
É incrível a capacidade que ela tem de se manter nova, viva... pode ter décadas de existência, mas quando alguém a descobre ela imediatamente renasce. Acabo de descobrir uma, bem conhecida por muitos, a maioria acho, mas até então ignorada por mim. Dona Elis soube mesmo e ninguém melhor que ela poderia ter cantado essa composição do Belchior. É essa mesma que vocês estão pensando. Sua letra é tão real que eu poderia, assim como muitos, tomá-la para mim, dizer que minha, e tais palavras saíriam de minha boca com a autoridade de quem as viveu, não fosse o stauts quo já mencionado aqui. Mas, sim.. poderia.
Para não me estender mais, aqui vai ela. Leia. Se possível ouça.


Não quero lhe falar, meu grande amor,
das coisas que aprendi nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
e tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar,
eu sei que o amor é uma coisa boa,
mas também sei que qualquer canto é menor
do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem: há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão
e beijar sua menina na rua
é que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão,
digo que estou encantada como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão,
pois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo, eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos
ainda somos os mesmos, e vivemos
Ainda somos os mesmos, e vivemos
como os nossos pais...
Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando,
mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
que o novo sempre vem...
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
tá em casa guardado por Deus
contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
nós ainda somos os mesmos e vivemos
ainda somos os mesmos e vivemos
ainda somos os mesmos e vivemos
como os nossos pais...

domingo, 11 de outubro de 2009

Carta aberta a um perturbado (in)consciente

Tenho 18 anos e hoje é domingo. Desde sexta estou aqui, mas não queria vir. Vim. Embora quisesse ficar. É que pesei bem os prós e os contras pra ver onde o final de semana seria menos chato. Acho que errei na escolha. Ou não. Até que ponto estou sozinha aqui dividindo o apartamento com mais oito pessoas e até que ponto estaria acompanhada se tivesse ficado em casa esses dias? Veja bem: dezoito anos e té agora o que foi que eu fiz da minha vida? O que é que eu tenho pra te contar? Lamentos? Não sou Pixinguinha. Fui convidada pra participar de um grupo de teatro que tem por proposta representar sentimentos ou/e sensações de alguém da platéia que se dispõe, se voluntaria a contar. Ainda não começaram os ensaios, mas estou realmente tensa para que isto aconteça. Neles, nos ensaios, o próprio pessoal do grupo é que conta suas histórias para serem encenadas. Provavelmente vão pedir as minhas, mas o que é que eu vou contar?! Por quais situações já passei que valham a pena contar, que sejam dignas de ser encenadas? Já escavei minha memória até o osso e cada coisa que eu encontro me parece mais insignificante que outra. Tem a história da minha mãe, mas esta é tão pessoal e triste que não quero contar. E também não é minha, né... As demais parecem apenas confissões bobas de adolescentes. Você poderá me dizer que eu realmente, há bem pouco tempo, não passava disso. Mas e daí? Não tenho nada, nada aconteceu nem acontece na minha vida. Só o que tenho são sonhos platônicos. Nada. Estou vendo uns refletores aqui perto, seu canhão iluminando o céu noturno e estou escrevendo isto na frente de um Clio. Você sabe o que isto significa. Dezoito anos, praia, festa vizinha de casa e eu trancada. Isso é normal? Não que isso fosse me deixar bem. Nós sabemos o que me deixa bem, ou melhor, quem me deixa bem. Você sabe que aquela euforia toda não foi só por Elza Soares. Sabe que preferi ficar lá fora, mas que não foi pra manter o mito. Porém não posso acompanhar minhas pessoas em tudo, completamente entregue nem nunca tive alguém meu inteiramente, inteiramente não no sentido de posse, você sabe. E isso me deixa mal. Muito. Como diria aquele, eu sofro é de excessos. Excesso de paixão, de prisão, de solidão. Sou a prisioneira do castelo e espero fugir no dragão branco antes que me torne essa pessoa chata, ranzinza, amargurada que acho que estou me tornando. Prefiro a morte. E nem se escandalise com isto, faça-me o favor. O dragão braco tem nome, acho: independência econômica. Meu pai não é de todo a bruxa má que me prende nesse castelo. Tem um pouco de mim nela também, um pouco de minha essência, minha falta de atitude e não me refiro a uma rebeldia adolescente. Enquanto isto, só posso ficar na janela mais alta da torre mais alta à espera da primeira criatura que virá me salvar: o dragão branco, ou a morte.

Jampa, 11/10/2009.