domingo, 11 de outubro de 2009

Carta aberta a um perturbado (in)consciente

Tenho 18 anos e hoje é domingo. Desde sexta estou aqui, mas não queria vir. Vim. Embora quisesse ficar. É que pesei bem os prós e os contras pra ver onde o final de semana seria menos chato. Acho que errei na escolha. Ou não. Até que ponto estou sozinha aqui dividindo o apartamento com mais oito pessoas e até que ponto estaria acompanhada se tivesse ficado em casa esses dias? Veja bem: dezoito anos e té agora o que foi que eu fiz da minha vida? O que é que eu tenho pra te contar? Lamentos? Não sou Pixinguinha. Fui convidada pra participar de um grupo de teatro que tem por proposta representar sentimentos ou/e sensações de alguém da platéia que se dispõe, se voluntaria a contar. Ainda não começaram os ensaios, mas estou realmente tensa para que isto aconteça. Neles, nos ensaios, o próprio pessoal do grupo é que conta suas histórias para serem encenadas. Provavelmente vão pedir as minhas, mas o que é que eu vou contar?! Por quais situações já passei que valham a pena contar, que sejam dignas de ser encenadas? Já escavei minha memória até o osso e cada coisa que eu encontro me parece mais insignificante que outra. Tem a história da minha mãe, mas esta é tão pessoal e triste que não quero contar. E também não é minha, né... As demais parecem apenas confissões bobas de adolescentes. Você poderá me dizer que eu realmente, há bem pouco tempo, não passava disso. Mas e daí? Não tenho nada, nada aconteceu nem acontece na minha vida. Só o que tenho são sonhos platônicos. Nada. Estou vendo uns refletores aqui perto, seu canhão iluminando o céu noturno e estou escrevendo isto na frente de um Clio. Você sabe o que isto significa. Dezoito anos, praia, festa vizinha de casa e eu trancada. Isso é normal? Não que isso fosse me deixar bem. Nós sabemos o que me deixa bem, ou melhor, quem me deixa bem. Você sabe que aquela euforia toda não foi só por Elza Soares. Sabe que preferi ficar lá fora, mas que não foi pra manter o mito. Porém não posso acompanhar minhas pessoas em tudo, completamente entregue nem nunca tive alguém meu inteiramente, inteiramente não no sentido de posse, você sabe. E isso me deixa mal. Muito. Como diria aquele, eu sofro é de excessos. Excesso de paixão, de prisão, de solidão. Sou a prisioneira do castelo e espero fugir no dragão branco antes que me torne essa pessoa chata, ranzinza, amargurada que acho que estou me tornando. Prefiro a morte. E nem se escandalise com isto, faça-me o favor. O dragão braco tem nome, acho: independência econômica. Meu pai não é de todo a bruxa má que me prende nesse castelo. Tem um pouco de mim nela também, um pouco de minha essência, minha falta de atitude e não me refiro a uma rebeldia adolescente. Enquanto isto, só posso ficar na janela mais alta da torre mais alta à espera da primeira criatura que virá me salvar: o dragão branco, ou a morte.

Jampa, 11/10/2009.

Um comentário:

  1. A cada dia que passa, a srta me surpreende mais com sua criatividade, com sua veia artistica! Adorei seu texto de estréia! Beijos, amiga

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