quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Feiúra é um talento


Quando me pergunto se você existe mesmo, amor...

Isso é para aqueles que afirmam categoricamente que a cantora Maria Bethânia é, reluto em dizer... feia. Viana Telles Veloso? Não. Competência é seu sobrenome. Pude comprovar isso quando tive a graça divina de, na segunda passada, assistir a um show seu no (beliíssimo) Teatro Castro Alves. É inominável a forma que aquela mulher adquire no palco, ela que já passou da condição de gente há muito tempo. Hoje, dizem as boas línguas, ela é uma entidade. Inexplicável a energia que ela conserva há anos e que a torna quase uma figura mitológica (como a Liberdade do Millôr e do Rangel). É da extrema dedicação que nasce a competência. É do mesmo botão que brotam seu talento e seu amor pela arte de cantar. São galhos da mesma árvore chamada Maria Bethânia. E eu comi o fruto dessa árvore. cujo sabor alucinante jamais esquecerei. Quero um dia chegar aos pés da sola do sapato que ela não usa!
Ouço agora seus discos e me vem à mente algo ainda maior. Num determinado momento do show, melhor nomeando, espetáculo, lembrei-me que era aquela mesma menina que há mais de 40 anos, quando tinha a minha idade, extasiou a platéia do Opinião com sua voz, inigualável, inconfundível, irretocável... Mal pude acreditar. Do lote de coisas que já perdi pela má sorte de ter nascido tão tarde - descuido maldito do destino, esta apresentação se exclui e mais uma vez agradeço a todos os santos (e que lugar melhor para fazer isso que a Bahia?) a oportunidade. Não me arrependo de nada, de não ter corrido até o pé do palco, de não ter gritado tudo o que eu queria. Me sinto agradavelmente satisfeita.
Sem mais delongas, afirmo tão categoricamente quanto: Feio é bonito.

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