sábado, 24 de abril de 2010

O meu luto é a saudade e saudade não tem cor

preto? não. hoje as cores serão vivas.


Pois, não tive nem condições de sentar aqui para escrever o que quer que fosse ontem.
O psicológico completamente arrasado.
Uma antileonina que adora se esconder,
mas que nem sempre consegue.
Desde a quarta que venho me torturando um pouco. Eis:
21/04: lembro, não sei porque raios, da mecha de cabelo de minha mãe que está guardado dentro de um envelope, dentro de sua antiga Bíblia, dentro da 4ª gaveta de minha comôda, bem lá no fundo. e decido pegá-la.
22/04: vou ao Sesc assistir a um espetáculo da Cia. Tato (PR), Tropeço, que conta a história de amor e de vida entre duas velhinhas com a manipulação não de bonecos, mas das próprias mãos. lindo, sesibilíssimo. em narrativa não linear, mostra a solidão de uma das velhinhas lembrando os momentos felizes quando a outra ainda era viva.
23/04: ensaio de Tempo de Guerra. fomos recuperar a cena criada no último ensaio. nesta, há um momento em que eu pego nos cabelos de Regina (a propósito, Regina está na foto do post anterior, Elas, ao lado de Elis). incrivelmente, reparo que são da mesma cor e quase da mesma textura da mechinha de minha mãe. e tenho que mexer neles, afagá-los. afagando-os eu estou, na verdade, atenuando o momento que está por vir: o homicídio do personagem da mãe. eu que já estava um tanto comovida com a beleza quase psicodélica que a cena está formando - neste ensaio foram acrescentados mais signos, música, movimento... e ah! quase esqueço de dizer que também foi incluído um pedaço de cena que nós tinhamos criado num outro ensaio, a lembrança de um momento de nossa infância. enfim, por tudo isso, meu clandestino coração não aguentou e as lágrimas vieram. vieram e encontraram apoio na sensibilidade e compreensão de meus dois companheiros de trabalho: Diógenes, o dramaturgo a quem sempre me refiro e, claro, Regina. mas fiquei meio lesa pelo resto do dia. em casa, meu pai procurava os motivos de meu silêncio. e só o relato aqui, neste espaço, que é onde tenho menos (mas inda não me isento de) censura. mas compalavras verbalizadas, a ninguém.
24/04: hoje faz 6 anos da morte de minha mãe. longe de contar detalhes de sua existência, deixo aqui um poema de Elisa Lucinda que eu adoro:


Incompreensão dos Mistérios

Saudades de minha mãe.
Sua morte faz um ano e um fato
Essa coisa fez
eu brigar pela primeira vez
com a natureza das coisas:
que desperdício, que descuido
que burrice de Deus!
Não de ela perder a vida
mas a vida de perdê-la.
Olho pra ela e seu retrato.
Nesse dia, Deus deu uma saidinha
e o vice era fraco.



2 comentários:

  1. Nay, vim aqui te deixar um presentinho que me lembrou muito você quando vi... um achado, lindo... de 1969

    http://www.youtube.com/watch?v=Om42VY0W224

    beijo.

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  2. Nayara, que lindo o seu blog e o que vc escreve nele. Acho que não tinha vindo aqui antes. De onde vc tira tanta palavra rebuscada? rsrsrs Como não se comover e entender suas lágrimas no ensaio? E claro que Regina e Diógenes seriam solidários a você. É uma pessoa muito especial. Tenho forte carinho por vc e por sua ousadia, seu talento, sua voz, seu crescer. E sabe, se eu sou a abelha, são pessoas como vc que fazem o meu papel na minha história.

    Grande abraço!!

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