terça-feira, 27 de julho de 2010

A cama

na madrugada de ontem


Era bom aquele lugar do qual me recordo agora não sei por que. Nunca sabemos onde a meada desenrolará seu fio de pensamento naquele estágio de pré-sono. E não posso dizer que para por que continua, mas acabou chegando ao sítio da minha infância. Jamais hei de dormir melhor sono que os daquelas noites sertanejas. Nunca nenhuma outra cama me acalentará tão gostosamente quanto aquela velhinha, rangendo a velhice, desbotando o branco da tinta velha. Já na época eu dizia que preferia mil vezes aquela à de meu quarto oficial. “Então vamos trocar”, minha mãe dizia. Mas claro que fora do contexto a cama não teria o sabor igual. Me lembro que na hora de dormir eu me deitava, pedia meu leite com chocolate a mainha e depois do boa noite eu me encolhia sob o lençol fino e quentinho que até hoje guardo comigo; e enquanto os adultos continuavam na sala vendo a televisão pessimamente sintonizada, eu ouvia os sons da noite. Ouvia o uivo sinistro do vento pela fresta da janela. Ouvia o cantar agourento dos pássaros da noite. Ouvia o chocalho das vacas no curral a diante e por vezes jurei ouvir o barulho de uma criatura mágica que morava os sítios e a quem meu pai chamava Comadre Fulôrzinha. Por outras, via refletido no chão o reflexo de uma luz cuja origem nunca consegui encontrar em canto algum do céu. Depois imaginava lagos encantados escondidos por detrás das árvores que se seguiam para além da casa e cavalos lindos e brilhantes (eu gostava de cavalos) muito parecidos com os da animação contida no meu vídeo de primeiro aninho. E enquanto me aventurava em sua companhia perdia o fio do pensamento até adormecer como faço agora. Mas a cama